Rui Perdigão
Não se deixe enganar por quem lhe disser que se votar de determinada maneira o seu voto terá mais valor
Na porta de mais uma eleição municipal no Brasil, somos questionados sobre o nosso voto, mais concretamente em quem vamos votar. Eu tenho respondido igual minha mãe sempre nos respondeu, mesmo depois de longos e calorosos debates em família, ou seja, que o voto é secreto e livre.
No entanto, ao observar quanta estranheza essa resposta causa nas pessoas e não querendo ser interpretado como estando zuando com elas, vou agora expressar o meu sentido de voto, na esperança de que a curiosidade alheia se dissipe.
Assim, manifesto que irei votar novellu. Em língua portuguesa, estou dizendo que pretendo votar em algo de novo. Não “de novo” por repetição, mas pela característica intrínseca de algo próprio na existência e na materialidade.
Certamente alguns dirão que esse voto não é novo, mas é o voto de quem está cansado do que é repassado aos jovens, a quem sempre dizemos desejar o melhor, mas para quem disponibilizamos somente cargos de estagiário na aridez de uma terra queimada e sem trincheiras.
É também oportuno dizer a quem pergunta, que não venderei meu voto, que também não darei um voto útil nem um voto contra, nem mesmo o farei por emoção ou fé.
Reafirmo assim pretender votar em algo diferente na forma e no conteúdo e que se os jovens se dispuserem a votar na humanidade posso muito bem juntar-me a eles de bom agrado.
Penso poder afirmar que os velhos permanecem semelhantes aos de outrora, mas que os jovens de hoje, estão muito diferentes dos de ontem.
Sempre me atento quando faço generalizações, mas colocadas as devida reticências, compreendo que o novo pode despertar incertezas ou pior, medos em face do desconhecido. Mas queiramos, isso não é uma perspectiva jovem.
A cada nova eleição estou mais exigente e preocupado com o voto estar a apresenta-se para os jovens como algo inútil, o que é deveras perigoso. Querendo ou não, se se reunirem as condições para uma ruptura no processo de transmissão geracional a democracia estará sendo posta em causa.
É imperioso que consigamos passar o testemunho sem o deixar cair, sem fazer dele um poderoso freio de mão. Chegados aqui, acredito que mais cedo ou mais tarde os jovens assumirão maior protagonismo no coletivo através de uma performance de conhecimento.
O Mindset Fixo instalado por aí é produto de uma minoria de zeros que só está se dando bem nas periferias deste caldeirão em que assamos felizes e contentes. Não tem como continuar a arrastar os jovens a reboque para um mundo que eles desaprovam e que, arrisco-me dizer, todos nós reprovamos a cada dia que passa.
Jovem, novo, visionário, inovador, instruído, são predicados que despertam a minha atenção nesta eleição, na qual nunca esqueço que o meu voto é igualzinho a qualquer outro. Vale exatamente o mesmo. Não se deixe enganar por quem lhe disser que se votar de determinada maneira o seu voto terá mais valor. Isso não existe.
O que existe é a possibilidade do cara estar a querer o seu voto só para se promover, uma vez que o sentido de serviço público é quase que inexistente. Se até na carreira está difícil, imagine fora dela.
Rui Perdigão é administrador, geografo e presidente da Associação Cultural Portugueses de Mato Grosso.