De R$ 371,8 mil de resultado positivo para mais de R$ 400 milhões em prejuízo contábil. Este foi o resultado final do trabalho da auditoria independente contratada pela nova gestão da Unimed Cuiabá para verificar os números do balanço contábil de 2022 da cooperativa, que possui mais de 1.400 cooperados e cerca de 220 mil usuários. Trata-se da maior fraude fiscal da história do sistema Unimed no Brasil.
O atual diretor de Desenvolvimento de Mercado da Unimed do Brasil e que acumula o cargo de presidente da Federação das Unimeds de Mato Grosso, Rubens de Oliveira Junior é apontado como o principal responsável. Rubens é o ex- presidente da Diretoria Executiva da Unimed Cuiabá e, ao lado, do ex-CEO Eroaldo Oliveira e do ex-presidente do Conselho de Administração João Bosco Duarte foram os dirigentes responsáveis por fecharem os números que, segundo a auditoria realizada, maquiou o balanço e possibilitou a fraude fiscal milionária.
As inconsistências contábeis da gestão de Rubens já haviam sido questionadas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), órgão que fiscaliza os planos de saúde. Os números apresentados por Rubens estavam sendo questionados desde o segundo trimestre do ano passado, por meio de notificações da ANS, e não foram respondidos corretamente pela gestão anterior.
As inconsistências contábeis também haviam sido apontadas pelos Conselhos Fiscais em 2021 e 2022. Contudo, Rubens, Eroaldo e João Bosco omitiram, por várias vezes, as informações da Unimed Cuiabá para os conselheiros em desacordo com o estatuto da Cooperativa, conforme fontes, blindados pela antiga assessora jurídica da cooperativa, a advogada Jaqueline Larrea.
O balanço contábil 2022 foi apresentado em Assembleia Geral Ordinária em 4 de março deste ano pelo ex-CEO Eroaldo de Oliveira e foi reprovado. Nesta quarta-feira (14), o balanço contábil reajustado pela auditoria foi enviado aos cooperados e uma nova Assembleia Geral Extraordinária foi marcada para o próximo dia 27 de junho.
A Unimed Cuiabá enviou nota à imprensa sobre o assunto:
NOTA À IMPRENSA
Sobre a publicação do balanço contábil 2022 auditado da Unimed Cuiabá, esclarecemos que:
1. O atendimento aos mais de 220 mil clientes está assegurado e é prioridade da atual gestão, que já vem realizando várias ações administrativas para garantir um atendimento de mais qualidade.
2. Desde março deste ano, quando assumimos a gestão da Unimed Cuiabá e conforme decisão da AGO, fomos incumbidos de contratar uma auditoria externa para verificar a realidade dos números da nossa Cooperativa. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) havia apontado diversas inconsistências na última gestão que foram comprovadas por esta auditoria.
3. Será um enorme esforço para a atual Diretoria e cooperados, que são os donos, regularizar a saúde financeira da Cooperativa, que deverá seguir um plano de regularização a médio prazo que será apresentado em Assembleia Geral Extraordinária (AGE) a ser realizada em 27 de junho de 2023.
4. Se houver algum ilícito apurado, os responsáveis serão acionados cível e criminalmente para ressarcimento da Cooperativa.
5. A Unimed Cuiabá reforça ainda aos seus mais de 220 mil clientes e aos mais de 1100 colaboradores que, além de assegurar a qualidade de atendimento, a atual gestão não poupará esforços no sentido de sanar e regularizar os apontamentos tanto da auditoria externa quanto da ANS.
Diretoria Executiva e Conselho de Administração 2023/2027Unimed Cuiabá
OUTRO LADO
Em contrapartida, a gestão Unimed Cuiabá 2019-2023 encaminhou um documento intitulado “Passando a Limpo – toda a verdade sobre a correção do balanço de 2022”.
Ao longo de 11 páginas, os ex-gestores da cooperativa médica acusaram os sucessores de alterarem pelo menos cinco pontos do balanço do contábil.
Dentre os questionamentos estão a retirada de um contrato de R$ 50 milhões do documento; a mudança do reconhecimento do Peona; a abertura das contas de janeiro, fevereiro e março; a anulação de contratos futuros e a margem de solvência incompleta.
De acordo com a gestão 2019-2023, as mudanças explicam o rombo de R$ 400 milhões.
“Em resumo: no passado, atravessávamos crises inovando, construindo, honrando os pagamentos e nos responsabilizando pelas dificuldades”, diz trecho.