Willer Zaghetto
Quem pensa no autoextermínio o faz por acreditar que essa é a única solução
Imagine um adolescente que acabará de terminar o seu primeiro relacionamento. Findado está aquele amor que seria único e para a vida toda. Uma situação capaz de causar desesperança, uma sensação de que dali em diante tudo será amargura e dor. Em nada ajudam os dizeres do tipo: “já vocês voltam”, “você vai arrumar outra pessoa”, “isso ainda vai acontecer muito”, e assim por diante. É preciso acolher!
Aquele que passou por algo semelhante, ao reviver suas memórias, percebeu que a tormenta daquele momento o cegava para realidade que vivia. Na vida adulta, isso também acontece, e com frequência.
O sofrimento é um fenômeno complexo e sua intensidade é dada pela significação que cada um faz da sua realidade, ou seja, como a pessoa percebe e interpreta o mundo ao seu redor, aliado a outras variáveis, como a capacidade de resiliência.
Quem pensa no autoextermínio o faz por acreditar que essa é a única solução para sua dor, não sendo capaz de visualizar outras saídas. Isso decorre da alteração da realidade causada pelo intenso sofrimento, não permitindo, a percepção do real motivo da aflição. Dizeres como “você tem tudo”, ou “isso é falta de fé”, ou “quer chamar a atenção”, somente pioram o quadro.
Existe uma enorme dificuldade em pedir ajuda, mas muito pior é quando um pedido de socorro surge e fica sem acolhimento. Acolher, é um modo de receber alguém, que exige apenas empatia. É preciso mostrar a pessoa aflita que ela não está sozinha! Sempre haverá alguém que possa ser uma rede de apoio.
Nesse sentido, deve-se investigar as coisas ou familiares que dependam dela pra estar bem, como filhos, animais de estimação, amigos, e outros, demostrando como ficaria a situação desses caso ela partisse. Essa estratégia é muito eficaz, pois nesse momento de atribulação é mais fácil perceber a dor do próximo do que a sua própria, sedimentando as razões para viver.
Ainda, auxiliar na percepção de outras possibilidades de resolução das dificuldades. Afirmar que aquele sofrimento é uma fase, e que como outras, boas ou ruins, também passará.
Que tem problemas, mas não é os seus problemas, e sua vida possui inúmeros outros aspectos. Caso não se sinta seguro para acolher, indicar um profissional sempre é a melhor saída.
Willer Zaghetto é médico, formado pela UFMT, e atua como perito oficial médico legista.