Setembro amarelo: o acolhimento

Willer Zaghetto

Quem pensa no autoextermínio o faz por acreditar que essa é a única solução

Imagine um adolescente que acabará de terminar o seu primeiro relacionamento. Findado está aquele amor que seria único e para a vida toda. Uma situação capaz de causar desesperança, uma sensação de que dali em diante tudo será amargura e dor. Em nada ajudam os dizeres  do tipo: “já vocês voltam”, “você vai arrumar outra pessoa”, “isso ainda vai acontecer muito”, e assim por diante. É preciso acolher!

Aquele que passou por algo semelhante, ao reviver suas memórias, percebeu que a tormenta daquele momento o cegava para realidade que vivia. Na vida adulta, isso também acontece, e com frequência.

O sofrimento é um fenômeno complexo e sua intensidade é dada pela significação que cada um faz da sua realidade, ou seja, como a pessoa percebe e interpreta o mundo ao seu redor, aliado a outras variáveis, como a capacidade de resiliência.

Quem pensa no autoextermínio o faz por acreditar que essa é a única solução para sua dor, não sendo capaz de visualizar outras saídas. Isso decorre da alteração da realidade causada pelo intenso sofrimento, não permitindo, a percepção do real motivo da aflição. Dizeres como “você tem tudo”, ou “isso é falta de fé”, ou “quer chamar a atenção”, somente pioram o quadro.

 Existe uma enorme dificuldade em pedir ajuda, mas muito pior é quando um pedido de socorro surge e fica sem acolhimento. Acolher, é um modo de receber alguém, que exige apenas empatia. É preciso mostrar a pessoa aflita que ela não está sozinha! Sempre haverá alguém que possa ser uma rede de apoio.

Nesse sentido, deve-se investigar as coisas ou familiares que dependam dela pra estar bem, como filhos, animais de estimação, amigos, e outros, demostrando como ficaria a situação desses caso ela partisse. Essa estratégia é muito eficaz, pois nesse momento de atribulação é mais fácil perceber a dor do próximo do que a sua própria, sedimentando as razões para viver.

Ainda, auxiliar na percepção de outras possibilidades de resolução das dificuldades. Afirmar que aquele sofrimento é uma fase, e que como outras, boas ou ruins, também passará.

Que tem problemas, mas não é os seus problemas, e sua vida possui inúmeros outros aspectos. Caso não se sinta seguro para acolher, indicar um profissional sempre é a melhor saída.

Willer Zaghetto é médico, formado pela UFMT, e atua como perito oficial médico legista.

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