Questões climáticas trazem um desafio à mais para o produtor, afirmam especialistas

Ao passo que a evolução da produção agrícola brasileira ocorre, diversos são os desafios que surgem com ela. Entre os principais, elencados nas últimas safras pelo setor produtivo, estão o acesso ao crédito e as questões climáticas.

De acordo com o agrônomo Xico Graziano, atualmente existem seis grandes desafios frente ao agronegócio. Crise conjuntural; Estrutura – modo de produção; Fator Tecnologia; Cenário Político; Imagem do agro na sociedade; e, Futuro – o que vem pela frente.

Palestrante do 2º Congresso Abramilho, realizado nesta quarta-feira (8) em Brasília (DF), Xico Graziano destacou que “neste momento estamos numa situação pouco vista na agricultura com o clima e na pecuária com preços”. Tal circunstância, salientou, irá, inclusive, afetar os resultados do PIB brasileiro, uma vez que o clima segue impactando na produção agrícola, os preços pagos continuam baixos, os custos elevados e as margens apertadas.

O especialista frisou ainda que “a crise conjuntural deve ser vista como algo momentâneo do agro e não como algo que vai destruir”, e que ela “está trazendo um desafio que é o da gestão dos custos e decisões dos investimentos do produtor”.

Segundo o vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) no Senado, o senador Zequinha Marinho (Podemos/PA), o problema climático é uma questão séria na atualidade.

“Quem pensava que 2024 era um ano desafiador, ele acaba de ganhar mais um complicador. Diversas coisas precisam ser revistas. Questões como juros altos e preços baixos das commodities, alto custo dos insumos, questões de logísticas”.

Coordenador do Ramo Agro do Sistema OCB, João Pietro, ressaltou que o momento hoje no que tange ao clima é de “salvar vidas”, diante da situação vivida pelo Rio Grande do Sul nos últimos dias, em decorrência das fortes chuvas que afeta 417 (83,9%) dos 497 municípios gaúchos e já deixou mais de 1,4 milhão de gaúchos desabrigados e cerca de 100 mil casas destruídas.

“E o agro está fortemente impactado. As questões climáticas trazem um desafio à mais para o setor produtivo. Precisamos de uma política agrícola bem estruturada não só em linhas de financiamento, mas também nas questões de risco e seguro rural”.

Plano Safra raspa do tacho do orçamento

Em sua segunda edição, o Congresso Abramilho trouxe para o debate diversos temas relacionados à produção de milho, como o futuro da cultura e da produção agrícola nos próximos três anos, acesso ao crédito, oportunidades para o cereal no mercado internacional, tecnologia e segurança alimentar.

O evento é uma realização da Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo (Abramilho), e, conforme o presidente, Paulo Bertolini, a questão do acesso ao crédito é um ponto em franca discussão, em especial quando se diz respeito à armazenagem.

Paulo Bertolini lembrou que hoje o Brasil possui um déficit de armazenagem de 120 milhões de toneladas e que a cultura do milho é a que mais sofre. “Enquanto os Estados Unidos armazenam em torno de 66% da sua produção de grãos em estruturas instaladas nas propriedades rurais, no Brasil são apenas 16%”.

Na avaliação do presidente da Abramilho “nós precisamos ser mais agressivos no Plano Safra. Ele não pode ser uma raspa do tacho de rubricas do orçamento. Ele precisa ser modernizado”.

Presente no Congresso Abramilho, o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Neri Geller, afirmou que o governo federal tem buscado auxiliar os produtores brasileiros com linhas de financiamento e postergação do prazo de pagamento para evitar a inadimplência do setor.

“Mas, é importante que o Congresso se movimente. O Mapa está articulando para que o setor sente à mesa com o governo federal, com a equipe econômica. Se quisermos mais seguro, previsibilidade, precisamos de orçamento. R$ 5 bilhões é muito pouco”, disse Neri Geller ao destacar que o orçamento está achatado, enquanto a produção cresce.

Milho e futuro

Diretor-executivo da Abramilho, Glauber Silveira, lembrou que o cereal é a cultura mais plantada e consumida no mundo.

“Queremos com esse Congresso trazer soluções e ações. O milho é o único grão plantado em todos os municípios do Brasil. Ele está presente em tudo e o Brasil tem uma oportunidade enorme e muitos países precisam de alimento”.

Senador pelo Rio Grande do Sul, Irineu Orth (PP/RS) ressaltou que o milho é de suma importância para alimentação humana e animal. Conforme ele, os avanços tecnológicos contribuíram muito para o crescimento da produção e que Mato Grosso é um dos exemplos de salto na produção, saindo de aproximadamente 7 milhões de toneladas em 2011 para mais de 50 milhões em 2023.

“Tendo mais clientes, tendo mais consumidores, o mercado [preços] se mantém em alta. As usinas de etanol contribuíram muito e o mercado internacional, que antes o Brasil não tinha por produzir pouco”.

O senador Zequinha Marinho reforçou a importância do cereal, principalmente no que tange ao combustível do futuro, que deverá ter um percentual maior de etanol anidro na mistura da gasolina, o que auxiliará no crescimento do consumo do biocombustível e de seus coprodutos.

Canal Rural MT

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