Quem são as pessoas da fila dos ossinhos?

Caiubi Kuhn

Trabalhar de forma articulada as políticas municipais é o caminho

Muitos brasileiros sonham em subir na vida e proporcionar uma condição melhor para suas famílias. No entanto, os indicadores sociais mostram que o Brasil é um dos piores países em termos de mobilidade social.

Neste texto, apresentaremos o cenário nacional e regional relacionado à extrema pobreza. Para que o sonho da população mais pobre possa se tornar realidade, o único caminho é o acesso à educação, qualificação e boas vagas de trabalho.

Conforme dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entre 30 países analisados, o Brasil ocupa a segunda pior posição em relação à mobilidade social, ficando atrás apenas da Colômbia. De acordo com o estudo, um brasileiro entre os 10% mais pobres demoraria, em média, nove gerações para alcançar a renda média do país. Entre os 20% que nascem na base da pirâmide, mais de um terço permanece entre os mais pobres, e menos de 1 em cada 14 consegue chegar aos 20% mais ricos. Ou seja, em geral, o filho do pobre continua pobre.

Para se ter uma ideia da diferença, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, os 1% mais ricos do Brasil ganhavam uma renda média 32,5 vezes maior que o rendimento dos 50% mais pobres. Dados mais recentes do instituto indicam que os 5% mais pobres da população vivem, ou melhor, sobrevivem, com uma renda per capita mensal de até R$ 232. Ou seja, uma família de quatro pessoas estaria vivendo com menos de R$ 928, valor bem inferior a um salário-mínimo.

Conforme o IBGE, Cuiabá possui uma população de 650.877 pessoas. Considerando que por aqui também temos cerca de 5% com a renda de até R$ 232, isso significa que temos na capital mato-grossense mais de 32 mil pessoas vivendo nesta realidade. Ou seja, quase uma Arena Pantanal lotada de pessoas tentando sobreviver nestas condições. Essas pessoas provavelmente são as mesmas da fila dos ossinhos, as que moram nas ruas ou que tentam encontrar uma opção de moradia em áreas de risco ou ocupações irregulares.

E como mudar essa realidade?

O lubrificante para melhorar as engrenagens do elevador social é a educação. A renda de cada indivíduo está relacionada ao grau de escolaridade. Ou seja, conseguir se formar no ensino médio, cursar um curso técnico ou fazer uma universidade é o melhor caminho para subir na pirâmide. Porém, ninguém consegue estudar todo dia com fome, e por isso é preciso uma articulação forte entre a política de educação, com as políticas sociais e de trabalho e emprego.

O poder público precisa construir os degraus para que a população mais pobre consiga alcançar a qualidade de vida que tanto precisa. É preciso divulgar de forma massiva as informações sobre as possibilidades de formação técnica e de nível superior. Também é necessário divulgar as políticas que existem nas universidades direcionadas para a população vulnerável.

A mudança na realidade das pessoas que estão na extrema pobreza pode ser fomentada por meio do acesso à informação, pois a informação permite cultivar sonhos, e sonhar é a energia que pode ajudar e muito essas pessoas a acreditarem que elas e os filhos delas podem ter uma vida diferente. Além disso, é preciso a construção de uma política municipal de inclusão produtiva, focada em qualificar e empregar as pessoas em situação de vulnerabilidade. Trabalhar de forma articulada as políticas municipais é o caminho para conseguir mudar a realidade social de Cuiabá e do Brasil.

Caiubi Kuhn é geólogo, doutor em Geociência e Meio Ambiente (UNESP) e professor na UFMT.

Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Cuiabá Notícias. 

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