GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO
Uma das maiores preocupações das ciências que cuidam da mente, como psicologia, psiquiatria, sociologia ou mesmo filosofia, é o suicídio e o estado psicológico anterior do suicida.
Em 1897, o sociólogo francês Émile Durkheim publicou “O Suicídio”, uma obra seminal. Neste trabalho, Durkheim empreende uma investigação pioneira sobre o fenômeno do suicídio, explorando suas causas sociais e apresentando uma análise inovadora que fundamenta a sociologia como disciplina autônoma.
A abordagem de Durkheim é notável por sua ênfase na influência dos fatores sociais sobre o comportamento individual. Ele rejeita explicações puramente psicológicas ou biológicas para o suicídio, buscando compreender as dinâmicas sociais que levam a taxas variáveis desse fenômeno em diferentes grupos
e contextos.
Durkheim classifica o suicídio em quatro tipos: egoísta, altruísta, anômico e fatalista. O suicídio egoísta resulta da falta de integração social, onde o indivíduo se sente isolado; o altruísta ocorre quando há uma integração excessiva, levando a um sacrifício pessoal pelo bem do grupo; o anômico é associado à desregulação social, como em períodos de crise econômica; e o fatalista decorre da opressão excessiva e regulamentação rigorosa.
Um dos conceitos-chave de Durkheim é a ideia de “solidariedade social”. Ele argumenta que sociedades com maior solidariedade têm taxas mais baixas de suicídio, pois os indivíduos se sentem conectados e integrados. Contrariamente, sociedades com baixa solidariedade, onde prevalece o individualismo, apresentam taxas mais altas de suicídio egoísta.
Também, relevante é a teoria da anomia, que Durkheim desenvolve para explicar os altos índices de suicídio durante períodos de desorganização social. A anomia ocorre quando as normas sociais são enfraquecidas, seja devido a mudanças rápidas na sociedade ou a crises econômicas, resultando em um estado de desconexão e falta de orientação.
Outros pensadores abordam o tema/fato do suicídio. A pergunta ainda persiste: afinal, por que as pessoas se matam?
Em sua análise fenomenológica, Heidegger explora a natureza da existência e como o ser humano é lançado no mundo. Ele argumenta que a ansiedade existencial, derivada da consciência da própria finitude, pode levar a uma busca por sentido. O suicídio, nesse contexto, pode surgir como uma tentativa desesperada de confrontar ou escapar dessa ansiedade.
Essas perspectivas oferecem uma gama variada de insights sobre o suicídio, desde análises sociológicas que consideram fatores sociais e estruturais até reflexões existenciais sobre liberdade, sentido e o confronto com o absurdo da existência humana. A compreensão do suicídio é complexa e multifacetada, exigindo uma abordagem holística que leve em consideração não apenas os aspectos sociais, mas também os filosóficos e psicológicos que moldam a experiência humana.
Sartre, em “O Existencialismo é um Humanismo,” aborda a liberdade e a responsabilidade individual, discutindo como cada escolha molda nossa existência. O suicídio, para Sartre, é a “conclusão lógica” da liberdade, uma escolha extrema diante da responsabilidade radical que vem com a liberdade de criar o próprio significado na existência.
“O Mito de Sísifo,” de Camus, é outra obra literária que explora a filosofia do absurdo e como a consciência desse absurdo pode levar ao questionamento da existência e, por vezes, à contemplação do suicídio. Ali, ele argumenta que o suicídio é uma fuga, uma recusa em viver em um mundo absurdo.
Enfim, sem querer dar o fim, antes, fazer florescer, especialmente em reflexão, vale muito o ensinamento de Albert Camus: a aceitação do absurdo, em vez da fuga, pode levar a uma revolta significativa contra as incertezas da vida.
É por aí…
GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO – tem formação em Filosofia, Sociologia e Direito, e escreve em A Gazeta.
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