Eustáquio Rodrigues Filho
Época de eleição e pipocam propagandas disfarçadas de “meros anúncios”
Época de eleição chegando e começam a pipocar pela cidade as diversas propagandas eleitorais disfarçadas de “meros anúncios”, inofensivas comunicações. Dentre as piores expressões de propaganda insidiosa (e enganosa) são as famigeradas faixas, agradecendo a determinado político por ter realizado alguma obra ou ajudado com algum tipo de beneficência.
Oras, isso é um dos maiores símbolos de vassalagem, cinismo e propaganda enganosa – aquela que induz a erro, pois, muito provavelmente, é o próprio político que paga e manda fazer (sempre por meio de um “laranja”) tal apupo, tal autoelogio.
E acontece em todas as esferas (municipal, estadual e federal) e em quase todos os poderes – a exceção fica por conta do judiciário, pois tal ato é expressamente proibido nesse poder.
Quantas vezes já nos deparamos com faixas: “obrigado, prefeito, pela nova praça construída”; “obrigado, vereador, pelo asfalto em nosso bairro”; “obrigado, deputado, pela água encanada”; “obrigado, senador, pela distribuição gratuita de preservativos”. São frases que soam absurdas, mas que começam a aparecer em cada esquina, principalmente em bairros periféricos e desassistidos, que ficam sempre no limbo, até as vésperas de uma eleição.
Nessas frases, geralmente existem dois erros embutidos – além de uma dose exagerada de populismo e demagogia – um explícito e outro implícito.
O primeiro erro é que o legislativo (vereadores, deputados e senadores) não executa nada. Apesar da falácia das “indicações” de obra, tais agentes públicos não possuem o poder de realizar obra alguma, mesmo com as tais das emendas parlamentares (instituto extremamente mal utilizado em nosso país). Tal atribuição é do poder executivo. Tais políticos mal conseguem fazer o que é sua atribuição primária, que é fazer leis e fiscalizar, quiçá executar qualquer obra.
O segundo erro que tal faixa nos induz a acreditar é que é a figura personalizada do político (no caso, o próprio prefeito, governador ou presidente) que realiza tal obra e não toda uma estrutura governamental, já montada e capacitada para isso, antes mesmo de o político sonhar em se candidatar. E aqui repito a ladainha acima: se conseguissem fazer o básico de suas atribuições, nem precisariam gastar tempo, dinheiro e reputação com faixas, cartazes, panfletos e publicidade em geral.
Tal alarde em propagandas inúteis, dispendiosas e cheias de meias-verdades mostra no que realmente os políticos (a maioria) são bons (excelentes): em praticar demagogia e distribuir generosas doses de populismo por onde passam. E a imensa maioria da população cai no “golpe”, acreditando que fulano, sicrano e beltrano “trabalham” muito pelo nosso bairro, pela nossa cidade, pelo nosso estado, pelo nosso país – quando estão apenas preocupados com sua reeleição e se manter no poder.
A cada faixa que vejo escrito “o bairro X agradece o prefeito Y pelo asfalto”, tenho vontade de gastar tempo e dinheiro mandando fazer outra faixa e colocar do lado “não fez mais que a obrigação”. Uma hora qualquer vou fazer isso. De verdade.
Eustáquio Rodrigues Filho é servidor público e escritor.