O ano está acabando

GABRIEL NOVIS NEVES

Estamos no mês número nove do nosso calendário gregoriano.

O ano praticamente terminou, e tudo recomeçará em breve, numa sequência até o final da nossa vida.

Quando criança, o tempo custava a passar.

E eu só sonhava com o período das férias escolares: três meses em dezembro e quinze dias em junho. 

As férias do final do ano eram as mais esperadas. 

Avançávamos no ano escolar, tínhamos as Festas do Natal e Ano Novo, quando ganhávamos presentes, e o dia todo para brincar. 

Existiam os brinquedos próprios da época como rifas, jogos de botões nos corredores dos casarões cuiabanos. 

Bem mais: soltar papagaios feitos em casa, brincar de bilboquê feito de latinha de massa de tomate, andar de perna de pau e jogar futebol na rua com bola de seringa.

Eram tantos! E nada comprado em lojas!

Vinha o carnaval, festa profana e do pecado. 

Nesse período de três dias, brincávamos pelas ruas. 

Corso pela avenida Getúlio Vargas, que terminava na rua Joaquim Murtinho, percorria a avenida Generoso Ponce e subia a Treze de Junho, onde encontrava a Getúlio Vargas. 

Continuava tudo na mais sadia alegria, com confetes, serpentinas, lança-perfume. 

As músicas eram as marchinhas de sucesso como “mamãe eu quero” ou “a é dos carecas que elas gostam mais”. 

Escolas de samba do Porto e blocos de sujos desfilavam pela Getúlio Vargas.

Havia matinês à tarde, para as crianças. A fantasia mais usada era de marinheiro. 

À noite, o baile de carnaval era de adultos, embora fosse mais frequentado por adolescentes. 

As meninas iam acompanhadas pelas suas mães ou familiares.

Sozinhas, jamais!

As férias escolares de junho (na época) eram curtas, de apenas quinze dias e ninguém passava de ano. 

Todas as brincadeiras estavam ligadas às festas juninas de Santo Antônio, São João e São Pedro, pegando sempre São Benedito, no primeiro domingo de julho. 

Essas festas eram comemoradas em toda a cidade, com foguetórios, rojões, procissões, lavagem do santo, hinos próprios desse período, pela banda uniformizada do mestre Ignácio, do bairro do Baú.

Fogueira na casa dos festeiros, com danças típicas e roupas imitando o matuto, que era o homem da roça.

Comidas, bolos, doces e bebidas juninas. 

Brinquedos para crianças, adolescentes e adultos.

Assim era o ano de bem antigamente onde todos eram felizes. 

As crianças estudavam em escolas públicas. Não havia diferenças sociais, racismo. Frequentada por meninos e meninas.

Tinha a merenda escolar, tão esperada e desejada por todos.

A professora, que acompanhava a turma do primeiro ao quarto ano primário.

Criança de antigamente estudava e brincava.

Terminado o ginásio e científico, aquelas – cujos pais tinham recursos financeiros -, geralmente iam estudar no Rio de Janeiro.

Voltavam à a sua cidade natal para exercer suas funções de nível superior, e até para implantar universidades!

Como era bom ser criança quando todas eram iguais.

GABRIEL NOVIS NEVES – é médico e ex-reitor da UFMT.

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