O agora ex-secretário de Políticas Agrícolas do Ministério da Agricultura, Neri Geller, disse nesta quarta (12) que a decisão pelo leilão do arroz foram tomadas pelo próprio ministro Carlos Fávaro. Sob suspeita de fraudes, o certame teria sido tratado diretamente entre Fávaro e a Casa Civil, ignorando recomendações técnicas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e, inclusive, do próprio Neri.
Geller pediu demissão do cargo após se levantar a suspeita de privilégio ao filho dele, Marcello Geller, sócio de uma das corretoras que participaram do leilão. O certame foi vencido por quatro empresas ao custo de R$ 1,3 bilhão, sendo que três delas não operam no mercado de compra e venda de grãos.
“Foi uma decisão da Casa Civil junto do ministro Fávaro. Agora, como se deu lá eu não sei, porque não consegui participar. O ministro puxou esse assunto 100% para o gabinete. Quem decidiu não fomos nós, inclusive nós orientávamos tecnicamente que, num primeiro momento, fizesse alíquota zero das importações fora do Mercosul, mas decidiram pelo leilão. Fizeram leilão de 100 mil toneladas, o que era aceitável, depois fizeram esse leilão de 300 mil toneladas, que foi mal conduzido”, alegou Geller.
Neri foi exonerado nesta terça-feira (11), sob suspeita de conflitos devido à participação do seu ex-assessor nas negociações do leilão do arroz por meio de uma corretora. Robson Almeida França trabalhou com Neri até 2020, quando Geller ainda era deputado, e intermediou o arremate de 90 mil toneladas do grão para três empresas. Celeuma culminou na exoneração de Neri após uma conversa entre Fávaro e Lula.
O ministro optou por dizer que o secretário tinha colocado o cargo à disposição, mas Geller nega que tenha pedido para deixar a Secretaria de Política Agrícola.
Outro ponto chave na exoneração de Neri, foi que, o filho dele, Marcelo Geller, chegou a ser ventilado como dono da corretora vencedora do leilão. Contudo, tratava-se do ex-assessor dele, Robson, com quem Marcelo iniciou um projeto de corretora, mas, conforme Neri e Robson, a empresa não deslanchou.
“Conversei com meu filho, ele categoricamente me afirmou que essa corretora não foi efetivada do ponto de vista da operacionalização, não fez nenhuma operação, não participou de nenhum leilão, nem público e nem privado. Também liguei para o Robson e ele muito categoricamente me disse: ‘deputado, você não paga mais meu salário, eu estou tocando a minha vida. O senhor sabe que tenho escritório de consultoria desde 2020. Não deu certo com Marcelo, eu abri minha corretora e estou participando de leilões desde o ano passado'”, afirmou Neri.
Em relação a polêmica envolvendo o no leilão do arroz, Geller defendeu que houve falta de orientação ao presidente Lula (PT), que precisará remediar a repercussão negativa das suspeitas de fraudes e anulação do certame.
“As posições técnicas não foram seguidas, as decisões foram muito assoadas para fazer com que o arroz chegasse nas periferias, nos grandes centros, o que é louvável, mas a forma como foi feito, foi equivocado. Mas nós tínhamos informações do Rio Grande do Sul que 78% já tinha sido colhido e que o que faltava ser colhido a maioria estava fora do eixo das enchentes. Nós tínhamos informações que o Centro-Oeste cresceu a produção em 30% e de que o Mercosul tinha estoque de arroz, poderíamos fazer de forma mais escalonada”, ponderou.
Geller frisou que enveredou esforços para que o leilão fosse realizado de forma mais prudente, mas que prevaleceu a ‘má condução’.
“Não faltou por minha parte na Casa Civil, nas reuniões técnicas, acompanhadas por membros do Ministério da Fazenda e do Planejamento, para que a gente fizesse as coisas com mais cautela e mais organizadas. Infelizmente foi conduzido de forma equivocada. Não estou falando que houve má-fé por parte de qualquer um, o que houve foi uma má condução”, concluiu.