Musa de 62 anos da Vila Isabel conta como combate o etarismo: ‘Sorriso, samba e empoderamento’

Paula Bergamin, está na Unidos de Vila Isabel desde 2019, e conquistou um espaço no samba até então jamais ocupado por uma mulher de 62 anos como ela: o de musa.

O charme e personalidade da gaúcha de Porto Alegre, que adotou o Rio há 43 anos, encantaram o carnavalesco Milton Cunha, que lhe deu o apelido de “Vovó Musa da Vila”, alcunha que carrega com carinho – por conta dos cinco netos que tem -, e porque não abre mão de todas as possibilidades que uma mulher pode viver. E isso mesmo diante do etarismo – preconceito a partir de estereótipos associados à idade.

“Uma vez perguntei à minha mãe, que estava com 60, sobre o medo de envelhecer, e ela disse: ‘A velhice vai chegando de mansinho e a gente vai se acostumando. Não é fácil. É um trabalho de aceitação. Você tem que entender que isso é o normal, acontece e tem a sorte de viver muito e curtir todas as etapas da vida. Nela, vão ter coisas boas e ruins'”, diz a musa.

“Uma vez perguntei à minha mãe, que estava com 60, sobre o medo de envelhecer, e ela disse: ‘A velhice vai chegando de mansinho e a gente vai se acostumando. Não é fácil. É um trabalho de aceitação. Você tem que entender que isso é o normal, acontece e tem a sorte de viver muito e curtir todas as etapas da vida. Nela, vão ter coisas boas e ruins'”, diz a musa.

‘O que essa velha faz aí?’

 

Paula, que é paisagista, chegou ao samba aos 52 an

“Tem gente que se espanta ao me ver sambando. Cruza os braços e cochicha com o outro. Quando esbarro com essas reações, nunca me ofendo. Sei que na sociedade ainda têm pessoas que pensam ‘o que essa velha faz aí’? Mas quando isso acontece, vou na frente delas, sorrio e sambo. Mostro que estou ali de verdade e quero passar alegria. Isso as derruba. Gosto da ideia de que posso quebrar esse preconceito”, afirma.

os, quando uma professora de dança a convidou para desfilar no chão na escola carioca Império Serrano. Uma das filhas torceu o nariz, mas ao ver a mãe arrasando na avenida, chorou de emoção.

Desde 2019 ela é musa da Unidos da Vila Isabel, onde desfila com looks próprios de uma musa – são mais de 100 em um closet -, e que mostram que a feminilidade pode ser exercida em qualquer idade.

Malhação e cuidados com o corpo

 

A paisagista acredita que foi a primeira mulher a abordar o tema etarismo no samba, e, ciente das limitações que a idade traz ao corpo, Paula não abre mão de sambar com uma meia-calça usada pelas dançarinas da Broadway e não descuida nunca da atividade física.

Além disso, a musa malha de segunda a sexta. Quando fez 54 anos, rendeu-se a um minilifiting no rosto e, mais jovem, quando parou de amamentar os três filhos que teve, realizou uma plástica nos seios.

Ela diz que lida bem com a vaidade e reconhece que há uma pressão grande para a mulher ser perfeita.

“Hoje mulheres de 20 anos começam a fazer preenchimentos e ninguém sabe o resultado disso daqui a uns anos. Como há a busca do corpo perfeito, também há a busca do rosto ideal. Todo mundo tem narizinho empinado, boca carnuda e olhos puxados com sobrancelhas arqueadas. Isso para mim parece um filme de terror”, conta.

Ela fala ainda sobre a pressão estética sobre os corpos em qualquer idade, e que a busca pela perfeição é insana.

“A bunda tem quer ser de homem: dura. Está todo mundo enchendo a bunda de preenchimento, porque nenhuma mulher tem essa bunda, não pertence ao corpo feminino. A mulher tem que ser perfeita em todos os aspectos. Aí você, pressionada, vai usar coisas. E usa desde novinha”, diz negando que a busca por procedimentos venha com a idade.

Empoderamento e autoestima

A maturidade, segundo Paula, trouxe essa reflexão e o empoderamento. A autoestima elevada, diz, a livra da crise de idade diante das musas mais jovens. Mas esse sentimento não pode vir apenas da beleza, é preciso estar bem consigo mesma:

“O empoderamento é você se aceitar, pagar suas contas. É você ter uma independência e poder dizer isso. Empoderamento é você acrescentar algo ao mundo, ter um lugar de importância para a família, para os amigos e ser feliz também. Quanto mais aceitação você tiver, mas felicidade terá. É bom se sentir bonita, é importante para a autoestima, mas ela não é só beleza. É estar bem com você mesmo e as mulheres poderosas têm essa capacidade.”

E se depender de Paula Bergamin, o tempo de se afastar do Carnaval ainda não chegou, e ainda vai demorar a chegar, já que não faz planos para parar. Paula arrisca dizer que o que a mantém no posto de musa da Vila até hoje é a identificação que as mulheres maduras da escola têm com ela. “Observo que pensam assim: ‘finalmente tem uma mulher que não tem 20 anos e que está num lugar de destaque”’, conta.

Gshow

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