Com 205 mil hectares irrigados, Mato Grosso tem o maior potencial da agricultura irrigada do Brasil, podendo chegar a uma área de mais de 4 milhões de hectares. Porém, essa expansão esbarra em um problema: a falta de energia elétrica disponível para a implantação de novos equipamentos. “Mato Grosso precisa resolver a crise energética para ampliar a área de irrigação”, afirma o pesquisador e professor da Universidade de Nebraska-Lincoln (EUA), Christopher Neale.
Doutor em Filosofia da Agricultura e Engenharia Biológica, Neale faz parte do grupo de especialistas que realiza um estudo sobre a quantidade de águas subterrâneas e superficiais no estado. Entre suas áreas de pesquisa, está a gestão de água para irrigação, que envolve não só o uso eficiente da água como também a redução do custo da energia elétrica. Ele esteve em Mato Grosso em junho para participar de reuniões e discussões sobre a agricultura irrigada na região.
“A irrigação depende de dois insumos básicos: água e energia. E temos muita água à disposição, no entanto, a energia elétrica produzida aqui não tem sido suficiente para atender essa demanda que cresce a cada dia. Para se atingir o potencial da agricultura irrigada é preciso que essa questão seja resolvida”, avalia o professor da Universidade de Nebraska-Lincoln.
O déficit energético é alvo de reclamação dos produtores rurais, justamente por atrapalhar a implantação de novos equipamentos, especialmente os pivôs centrais, método mais utilizado em Mato Grosso para a irrigação. Mensalmente, a Associação dos Produtores de Feijão, Pulses, Colheitas Especiais e Irrigantes (Aprofir-MT) se reúne com a Energisa para tentar encontrar soluções para o problema no setor, porém nenhuma solução foi apresentada ainda.
“Atualmente não é possível instalar novos pivôs porque não existe energia elétrica disponível. Precisamos da irrigação não só para as adversidades climáticas, mas também para garantir a continuidade da segunda safra em Mato Grosso. Porém, como vamos fazer isso se não há disponibilidade energética?”, questiona o presidente da Aprofir-MT, Hugo Garcia.
Além disso, as tarifas pagas pelo serviço sofreram um aumento considerável nos últimos anos, o que impacta diretamente no custo da irrigação. “Pagamos um valor alto e ainda não temos energia elétrica suficiente à disposição. Esse é um problema não só para a agricultura, mas para todos os setores, já que sem energia não é possível abrir novos hospitais e escolas, por exemplo”.