O candidato à Presidência do Equador Fernando Villavicencio foi assassinado nesta quarta-feira com três tiros na cabeça ao deixar um comício numa escola de Quito, a onze dias do pleito. Horas antes do atentado, o político e jornalista havia feito um discurso premonitório, em declarações diretas a criminosos que ameaçavam matá-lo.
Num discurso na cidade de Chones, cujo vídeo foi compartilhado nas redes sociais do candidato, Villavicencio relatou que havia sido aconselhado a usar colete à prova de balas. No entanto, revelou ter recusado o item e disse que o apoio da população seria seu escudo.
— Eu não preciso [de colete]. Vocês são um povo valente, e eu sou valente como vocês. Vocês são quem cuida de mim. Venham, aqui estou. Disseram que iriam me quebrar. Aqui está Don Villa [apelido de Villavicencio]. Que venham os chefões do narcotráfico, venham! Que venham os atiradores, que venham os milicianos! Acabou-se o tempo da ameaça. Aqui estou eu. Podem me dobrar, mas nunca vão me quebrar — afirmou o candidato, durante comício.
Em entrevista à agência Efe, em maio, após anunciar a campanha presidencial, Villavicencio afirmou que queria ser presidente para “enfrentar e derrotar máfias que cooptaram o Estado e colocaram a sociedade de joelhos”. Villavicencio, que aparecia em quinto lugar nas pesquisas entre os postulantes à sucessão de Guillermo Lasso, apresentava-se aos eleitores como um combatente à corrupção sob o slogan “É hora dos corajosos”.
Um dos suspeitos pelo crime foi morto durante troca de tiros com a polícia, segundo autoridades equatorianas. Até o momento, já foram presas seis pessoas suspeitas do assassinato de Villavicencio. Testemunhas disseram que ouviram rajadas de tiros e o político cair no chão gravemente ferido. Ele foi levado para atendimento médico imediatamente na Clínica da Mulher, um centro de saúde próximo ao local do atentado, mas não apresentava mais sinais de vida.
O crime foi reivindicado pela facção criminosa Los Lobos, apontada pelo observatório InSight Crime como o segundo maior grupo criminoso do Equador, com mais de 8 mil membros distribuídos nas prisões do país. O grupo esteve envolvido em vários massacres sangrentos em prisões no Equador, que deixaram mais de 315 presos mortos só em 2021, e atua principalmente com tráfico de drogas e mineração ilegal.
O presidente do Equador, Guillermo Lasso, declarou estado de exceção por 60 dias, em todo o país. O governo brasileiro, por meio do Ministério das Relações Exteriores, externou “profunda consternação” pelo assassinato do candidato à Presidência do Equador.