Luiz Fernando
Diz o ditado popular que “Errar é humano, persistir no erro é burrice”. Mas a frase original é um pouquinho diferente, ela é atribuída ao filósofo e médico francês, Georges Canguilhem (4 de junho de 1904 – Marly-le-Roi, 11 de setembro de 1995) que escreveu: “Errar é humano; persistir no erro é diabólico”.
Ao longo do tempo ela foi ganhando variações, um dia desses um amigo me disse, “Errar é humano, colocar a culpa nos outros é mais humano ainda.”
Interessante que este pensamento ignora uma série de fatores, um deles é o tempo que alguém pode demorar para aprender, e logo poderia sim persistir no erro, não por maldade ou burrice, mas por algum tipo de limitação.
Nos lança na urgência e nos cobra uma ação imediata, como se o aprendizado fosse uma tecla que ao ser apertada uma única vez acenderia uma luz em nossa mente.
Não quero aqui contestar o brilhante filósofo, mas quero sim lançar mais uma luz sobre o tema, tirar o peso de nossas costas e libertar nossa mente para o novo, talvez até criar mais uma variante da frase famosa.
Quando erramos é sinal de que estávamos tentando acertar ou pelo menos aprender. Algumas tarefas ou ações vão demandar sim tempo para que sejam feitas com excelência e não vejo nada de diabólico nisso. Temos esse direito e nada pode nos tirar essa oportunidade.
Lembro quando me lancei numa aventura de aprender a voar de parapente com o competente instrutor de voo livre Fernandes Falcon, um dos profissionais mais competentes do Brasil. Apesar da didática perfeita e da prática apurada, demorei um bom tempo para entender como tudo funcionava. Errei muito até colocar o parapente em cima da cabeça, mais ainda para decolar pela primeira vez. Não era nada diabólico e tão pouco burrice, era maturação.
Se eu tivesse me cobrado tanto penso que não teria voado, e saibam que voei muito e aproveitei demais.
Muitas pessoas vivem assim, se cobram demais e acabam não voando. Como disse no início desse escrito.
Canguilhem nos lança na urgência do acerto e nos tira o direito do aprendizado, afinal, um pode voar em um dia e outro demorar um mês, mas ambos quando estiverem lá em cima serão iguais, sem cobranças, sem neuras, só curtição.
Pare de se massacrar em busca da perfeição. Lembre-se que cada um terá seu tempo e isso precisa sim ser respeitado.
Existe um ensinamento em Alcoólicos Anônimos que fala o seguinte: “Vá com calma, mas vá”, penso ser esta frase a mais coerente. Ela nos mostra que não importa o desafio, devemos seguir em frente sempre. Não deixe um pequeno erro te impedir de avançar.
Em tempos atuais até parece que tempo é tudo que não temos, mas o peso que as coisas podem ter em nossa vida pode ser imensurável. É claro que não estou falando aqui dos erros produzidos pela falta de caráter, como uma traição conjugal, uma atitude desonesta ou o famigerado jeitinho. Estou me referindo a coisas sérias, novas habilidades e por aí vai.
Da próxima vez que você errar, não se sinta burro ou diabólico. Todos nós temos esse direito, mas nem por isso vamos relaxar. Estar alerta e tentar fazer o seu melhor, vai ser melhor sempre.
Fico imaginando se meu instrutor de parapente tivesse me dito essa frase, eu jamais teria visto o mundo lá de cima. Mas ele me tratou com amor e me fez voar. Esse mesmo amor eu quero que você sinta agora, afinal se eu consegui, você também vai. Não se sinta burro, inapto ou despreparado. Vá com calma, mas vá, no final o céu é o limite para todos nós.
Tenha força, tenha coragem, se esforce, treine, existe um mundo precisando e esperando por você. Passo a passo, dia a dia e os erros vão ficando para trás. Agarre as oportunidades e se prepare para viver o extraordinário.
Vou agora dar a minha versão para a frase inicial: “Errar é humano, persistir no erro pode ser só uma questão de tempo, pois quando o aprendizado chegar e erro foi apenas um companheiro da caminhada que te levou ao topo”.
Luiz Fernando é jornalista em Cuiabá, palestrante, terapeuta holístico e criador do método CURE que auxilia no tratamento para a bipolaridade. @luizfernandofernandesmt