Escolas de Chicago e Frankfurt

GONÇALO ANTUNES A Escola de Chicago e a Escola de Frankfurt representam duas correntes fundamentais no desenvolvimento do pensamento social e crítico no século XX. Embora tenham surgido em contextos diferentes, ambas as escolas abordaram, a seu modo, questões centrais sobre a sociedade, a cultura e a economia.  Fundada no início do século XX na Universidade de Chicago, a Escola de Chicago é conhecida por sua abordagem empírica e pragmática ao estudo da sociedade. Pioneira na pesquisa urbana e nas ciências sociais aplicadas, esta escola enfatizou a observação direta e o uso de métodos qualitativos para entender as dinâmicas sociais. A Escola de Frankfurt, formalmente conhecida como Instituto de Pesquisa Social, foi fundada na Alemanha na década de 1920 e está intimamente ligada ao desenvolvimento da Teoria Crítica. Em contraste com a abordagem pragmática da Escola de Chicago, a Escola de Frankfurt focou em uma análise crítica e dialética das estruturas de poder, ideologia e cultura na sociedade moderna. Robert E. Park e Ernest Burgess foram dois dos principais expoentes da Escola de Chicago. Eles desenvolveram a teoria da ecologia urbana, que contempla a cidade a um organismo vivo, onde diferentes áreas (como bairros e zonas comerciais) desempenham papéis específicos, interagindo de maneira similar aos componentes de um ecossistema. Esse enfoque ajudou a compreender a segregação espacial e as interações sociais em ambientes urbanos complexos. Outro pensador fundamental da Escola de Chicago, George Herbert Mead, introduziu o conceito de interacionismo simbólico, que postula que as interações sociais são mediadas por símbolos e significados compartilhados. Essa perspectiva influenciou profundamente o estudo da construção social da realidade e a compreensão dos processos de comunicação e identidade. Max Horkheimer e Theodor W. Adorno foram dois dos principais teóricos da Escola de Frankfurt. Em “Dialética do Esclarecimento”, Horkheimer e Adorno argumentam que o Iluminismo, em vez de libertar a humanidade, transformou-se em uma nova forma de dominação. Eles criticam a indústria cultural por transformar a cultura em mercadoria e por reforçar as relações de poder e controle através do consumo de massa. Um importante pensador frankfurtiano, Herbert Marcuse em “Eros e Civilização”, combina a psicanálise freudiana com o marxismo para explorar como a repressão sexual e a dominação social estão interligadas. Ele defende que a sociedade contemporânea cria necessidades falsas que mantêm os indivíduos em um estado de conformismo, reprimindo o potencial emancipatório da libido e da criatividade humana. Não se pode deixar de mencionar, Jürgen Habermas, considerado figura central da segunda geração da Escola de Frankfurt, que desenvolveu a teoria da ação comunicativa, onde propõe que a racionalidade comunicativa – o diálogo livre de coerção – é essencial para a realização da emancipação social. Ao contrário dos seus predecessores, Habermas tem uma visão mais otimista do potencial da modernidade, embora reconheça os desafios que as estruturas de poder e a colonização do mundo da vida representam. Embora as Escolas de Chicago e Frankfurt tenham origens, métodos e focos diferentes, suas contribuições ao pensamento social são complementares em muitos aspectos. A Escola de Chicago, com seu enfoque empírico e descritivo, oferece uma compreensão detalhada das dinâmicas sociais e culturais em contextos urbanos. Por outro lado, a Escola de Frankfurt fornece as ferramentas críticas necessárias para questionar as estruturas de poder subjacentes às dinâmicas observadas empiricamente.  A soma do pragmatismo da Escola de Chicago com a crítica dialética da Escola de Frankfurt sintetiza a riqueza do pensamento social, caminhando na direção de uma melhor completude e conhecimento de uma vida moderna envolta em complexidade.  É por aí… GONÇALO ANTUNES DE BARROS NETO, SAÍTO, tem formação em Filosofia, Sociologia e Direito. Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Cuiabá Notícias

Cinco frentes no combate à corrupção

Publicado pelo Tribunal de Contas da União, o ‘Referencial de combate a fraude e corrupção’ é um documento que merece leitura atenta e frequente. De fato, lutar contra a corrupção é uma tarefa de todos os dias nos mais diversos setores da vida social. É do interesse de organizações públicas, privadas e do terceiro setor. Afinal, sociedades onde grassa a corrupção tendem a ser mais atrasadas no seu desenvolvimento econômico e social, mais desiguais, mais injustas e mais violentas. É importante assinalar que esse fenômeno é mundial, a ponto de um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 das Nações Unidas ser “reduzir substancialmente a corrupção e o suborno em todas as suas formas”. Na sua fundamentação, o TCU emprega a Teoria do Triângulo da Fraude, segundo a qual, para que uma fraude ocorra, é necessária a ocorrência de três fatores: pressão ou motivação, oportunidade e racionalização. O Referencial propõe cinco frentes no combate à corrupção: prevenção, detecção, investigação, correção e monitoramento. Todas se complementam e cada uma delas exige a adoção de um conjunto de medidas para aprimorar a governança e a gestão de riscos. A prevenção tem como fundamento a cultura organizacional, cujos pilares devem ser a ética e a integridade. Mais que um código de conduta, a cultura ética exige condutas exemplares emanadas da alta administração que precisa ser um modelo de ética e de integridade, tanto nas decisões gerenciais quanto no comportamento pessoal. Quando os membros da equipe duvidam da integridade dos seus líderes, há terreno fértil para vicejar a corrupção. Ademais, devem ser implementados mecanismos de transparência, responsabilização e controles preventivos. Por sua vez, a detecção faz uso de ferramentas como canais de denúncias e depende da adequada estruturação e funcionamento da auditoria interna. A investigação ocorre quando há indícios da ocorrência de fraude ou corrupção. Seu êxito é essencial para identificar falhas organizacionais e dissuadir a repetição das irregularidades. Deve ser conduzida de modo imparcial para evitar exposições injustas ou juízos precipitados, mas firme e tempestivo de modo a não promover a impunidade. Correção envolve reparar ou mitigar o dano e responsabilizar os seus autores, de acordo com o devido processo legal. Por fim, o monitoramento implica no acompanhamento contínuo da higidez dos controles, na capacitação e sensibilização dos colaboradores, na atualização das normas e na adequação dos meios para o bom desempenho das demais frentes de combate. A corrupção é como mato num belo jardim. Se não houver zelo, ele surge, se espalha, cresce e toma conta de tudo, com as ervas daninhas e parasitárias sufocando as plantas medicinais, as árvores frutíferas e as flores. Gestores e cidadãos devem ser bons jardineiros.  LUIZ HENRIQUE LIMA é Conselheiro certificado e professor. Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Cuiabá Notícias

Eleições e mulheres

A maioria do eleitorado brasileiro são de mulheres (52,5%), segundo o TSE. Todavia, não há representatividade delas da mesma forma nos mandatos eletivos.  As candidaturas femininas, mesmo diante da obrigatoriedade da cota de 30% para o gênero, encontram objeções nos estereótipos e nas violências de gênero.  Em ano eleitoral, os direitos humanos das mulheres são pautas constantes das pessoas postulantes a mandatos eletivos. Entretanto, o que se vê após ultrapassado o período das campanhas são os direitos das mulheres sendo levados até onde se permitem que chegue, mas, jamais, onde deve chegar. O Tribunal Superior Eleitoral apresentou os números das candidaturas no Brasil, para as Câmaras e Prefeituras Municipais, no ano de 2.024. Segundo consta, para as Câmaras Municipais, pela primeira vez, as mulheres negras são mais da metade das candidaturas femininas, 18% de mulheres negras e 16% das brancas. Em 08 (oito) anos, a candidatura das mulheres indígenas dobrou, hoje são 884 no país. Outro dado bastante importante foi quanto à candidatura de pessoas trans. O TSE mapeou, pela primeira vez, a identidade de gênero. São 706 candidaturas de mulheres trans, sendo 440 de negras e 250 de brancas. Quanto aos homens trans, 245 são candidatos, sendo 153 de negros e 90 brancos.   No que diz respeito a candidatura para as Prefeituras Municipais, os homens brancos somam mais da metade dos candidatos. As mulheres ficaram assim distribuídas: 6% de mulheres negras e 9% de brancas. Dentre os indígenas, são 40 homens para 6 mulheres. Pessoas trans na candidatura à prefeitura: 3 mulheres trans (uma negra e duas brancas), e 2 homens trans (um negro e um branco). Um estudo inédito do Instituto Alziras mostra a necessidade de medidas urgentes para que as mulheres possam passar pelo sufrágio de forma mais segura. A pesquisa apontou que apenas 7% das representações de violência política de gênero e raça no Brasil resultaram em ações penais eleitorais, até o ano de 2.024.  Infelizmente, em meio bastante masculinizado, tal como na política, mesmo com leis de enfrentamento a violência política de gênero, as narrativas não são das melhores. O Monitor da Violência Política de Gênero e Raça assinalou que todas as vítimas das ações penais eram mulheres, e que 92% do polo passivo eram de homens.  A diretora do Instituto Alziras e coordenadora da pesquisa, Tauá Pires, explicou: “A nossa análise mostra que a aprovação da Lei de Violência Política de Gênero é um avanço, porém ainda insuficiente para garantir os direitos políticos das mulheres. Precisamos de medidas eficazes para promover justiça e proteção, especialmente em ano eleitoral”.         ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública estadual e mestra em Sociologia pela UFMT. Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Cuiabá Notícias

Tal pai, tal filho

LICIO MALHEIROS O engendramento político traz arraigado em si, nuances de: características, proximidade, afinidade e até mesmo, vínculo parental; que compreende uma parte essencial da vida familiar. Uma frase épica que perdura até os dias atuais, e que aparece em Os Lusíadas, de Luís de Camões, com o livro intitulado “Tal pai tal filho”, que rotula e massifica, que os filhos reproduzem qualidades e defeitos dos pais. Neste caso específico, o filho se assemelha ao pai pelas qualidades e virtudes, tanto: de caráter, dignidade e formação acadêmica, pois ambos são graduados em Direito. Seu pai, é nada mais nada menos Dr. Ricardo Monteiro, o mesmo que, nos idos dos anos 90 participava da apresentação de um programa televisivo, no qual ajudava e norteava os telespectadores com dificuldades advocatícias em geral. Reporto-me, ao jovem dinâmico Daniel Monteiro, cuiabano de chapa e cruz, filho do renomado e conceituado Ricardo Monteiro; sem sombra de dúvidas, um dos melhores advogados da capital, sua mãe é a senhora Luci Monteiro, e suas irmãs são: Bárbara Monteiro e Rebeca Monteiro. A família Monteiro foi a grande incentivadora para que Daniel Monteiro entrasse na política, postulando o cargo de vereador por Cuiabá, na tentativa, de renovar, mudar e quebrar o triste estigma da nossa Egressa Casa de Leis, Câmara Municipal de Cuiabá de Casa dos Horrores. Nenhum fruto cai longe do pé; este ditado popular se assemelha a trajetória e vida do Daniel Monteiro, trabalhando sempre em prol de Mato Grosso, principalmente à frente da Secretaria de Estado de Educação; atuando na pasta, com galhardia e dedicação. Em consonância, com o brilhante e atuante secretário de Estado de Educação, Alan Porto, ajudando de forma expressiva na colocação do Estado de Mato Grosso no Ranking do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (ideb). Saltamos, da 22ª posição para 8ª colocação, fato memorável, entre tantos outros trabalhos prestados. Daniel Monteiro, jovem, porém com capacidade cognitiva exacerbada, o que o torna, alguém com capacidade de mudar os destinos da nossa Casa de Leis. Entre seus inúmeros projetos alvissareiros e impactantes, um deles, é o que mais o preocupa, trata-se da questão do aleitamento materno, que é uma prática fundamental para o desenvolvimento da criança; pois a amamentação não envolve apenas o ato de nutrir, envolve uma grande inteiração entre mãe e filho. Agora, quando a mãe não produz leite suficiente para amamentar o seu filho, ou tratar-se de bebê prematuro, como foi o caso da senhora Inaê Garcia, que, nas redes sociais do Daniel Monteiro, externou profundo descontentamento com o Banco de Leite; em função de ter ligado para o número oficial e o resultado ter sido negativo, dizendo tratar-se de número incorreto. E o que lhe causou maior aflição e descontentamento é saber que, o Banco de Leite continua ainda, com baixo estoque, o que preocupa grande número de mães, pois o leite materno é vida. LICIO MALHEIROS é professor e geógrafo. Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Cuiabá Notícias

Seja o arquiteto da sua própria vida!

Soraya Medeiros O ser humano possui a habilidade de discernir o mundo ao seu redor Antes de tudo, é fundamental compreender o significado do que vou abordar aqui: Quando alguém te diz o que fazer. Quem diz, direciona sua fala a alguém. O verbo “dizer” não exige preposição ao expressar uma ideia, mas requer quando se refere a quem a mensagem é endereçada. Da mesma forma, na vida, podemos tanto falar quanto ouvir. No entanto, escutamos de verdade apenas quando certas condições são atendidas—considerando quem está falando e para quem a mensagem é destinada. O ser humano, com sua extraordinária capacidade sensorial e cognitiva, possui a habilidade de discernir o mundo ao seu redor. Estamos todos aptos a escutar aquilo que faz sentido em nossas vidas, mas é essencial aprender a distinguir o que deve ou não ser absorvido. Este texto tem o objetivo de demonstrar as diferenças entre o dizer, quem diz, e o ouvir, para quem escuta. Nem toda comunicação merece nossa atenção, especialmente quando se trata de uma opinião alheia não solicitada. Ao longo da vida, somos cercados por diversas pessoas—sejam familiares, amigos, colegas de trabalho ou membros de outras comunidades. Nesse ambiente, é essencial: Autoconhecimento: Aprender a se conhecer profundamente, estabelecendo limites claros para o que não nos agrada. Seleção de Influências: Selecionar cuidadosamente as pessoas ao nosso redor que realmente merecem ser ouvidas. A comunicação é um aspecto fundamental nas relações interpessoais. Ela não só serve como um meio para transmitir ideias e sentimentos, mas também como uma ponte que conecta pessoas, ajudando a construir relacionamentos sólidos e significativos. Para que essa ponte seja forte, é essencial que a comunicação seja tanto assertiva quanto empática. O que é Comunicação Assertiva? A comunicação assertiva é a habilidade de expressar pensamentos, sentimentos e necessidades de maneira clara e direta, sem agredir ou menosprezar o outro. Ela envolve o uso de uma linguagem clara, objetiva e respeitosa, permitindo que você defenda seus direitos e pontos de vista sem desrespeitar os direitos dos outros. A importância da Empatia Empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro, de entender e sentir o que o outro está vivenciando. Quando combinada com a assertividade, a empatia transforma a comunicação em uma ferramenta poderosa para resolver conflitos e fortalecer relacionamentos. Em qualquer relacionamento, seja pessoal ou profissional, é inevitável que surjam opiniões divergentes. A maneira como lidamos com essas diferenças pode determinar a qualidade do relacionamento. A comunicação assertiva e empática é essencial nesse contexto. Ouvir Ativamente: Antes de responder a uma opinião divergente, é importante ouvir ativamente o que a outra pessoa está dizendo. Isso significa prestar atenção não apenas às palavras, mas também ao tom de voz, às expressões faciais e à linguagem corporal. Responder com Respeito: Ao responder, use uma linguagem que reconheça o ponto de vista do outro, mesmo que você discorde. Frases como “Eu entendo seu ponto de vista, mas vejo de outra forma…” mostram respeito e abrem espaço para um diálogo construtivo. Expressar seus Sentimentos: Não hesite em expressar como você se sente em relação à opinião divergente, mas faça isso de forma clara e não agressiva. Dizer “Eu me sinto desconfortável com essa ideia porque…” ajuda a comunicar suas emoções sem culpar ou atacar o outro. Buscar um Meio-Termo: Em muitos casos, encontrar um compromisso que atenda às necessidades de ambas as partes pode ser a melhor solução. Isso não significa ceder em tudo, mas sim encontrar um terreno comum onde ambos possam se sentir valorizados. Quando você pratica a comunicação assertiva e empática, você contribui para a criação de um ambiente de confiança e respeito. Isso fortalece os laços e promove relacionamentos mais saudáveis, onde as diferenças são vistas como oportunidades de crescimento, e não como barreiras. Nos dias de hoje, é comum encontrar aqueles que opinam sobre tudo e todos, muitos dos quais criticam ou subestimam nossas capacidades. No entanto, cabe a você a responsabilidade de buscar aprendizado, evolução, e manter-se em um caminho de ascensão intelectual e espiritual. Os bons grupos, em geral, são liderados por alguém que inspira e instrui—não ditando o que fazer, mas servindo como exemplo a ser seguido, ou apenas como uma fonte de motivação. O essencial é reconhecer essas pessoas iluminadas que se comprometem em construir bons pensamentos, bons sentimentos e boas ações. Pessoas altruístas, que se posicionam a favor do coletivo, promovem o crescimento de todos, sem buscar glória pessoal. Há uma diferença significativa entre aqueles que compartilham conhecimento livremente, espalhando amorosidade, e aqueles que escolhem a dedo a quem esse conhecimento deve chegar. Não existe distinção perante a lei humana ou cósmica sobre quem pode ou não pode. O determinismo reside em você. Se disser a si mesmo que pode ou deve, ninguém poderá te dizer que não. Não se diminua nem se deixe levar pela opinião alheia. Não conceda poder a quem não o possui. Posicione-se a favor de si mesmo. Aprenda a reconhecer quem realmente deseja o seu bem, observando como essas pessoas ensinam, orientam, e escolhem suas palavras. Saiba identificar aqueles que orientam e ensinam porque genuinamente querem ver você crescer, seja em seu meio social ou profissional. Acredite na existência de pessoas que espalham amorosidade pelo mundo. Elas estão por aí, servindo gentilmente e acariciando o coração de todos, sem distinção. Aprenda a ouvir apenas o que faz sentido para a sua vida. E, se encontrar alguém que limita o seu ser sem oferecer amizade, aperfeiçoamento, aprendizado e evolução, não hesite em seguir outro caminho. Afinal, quem não sabe ensinar, não pode te orientar, muito menos te criticar. Quem não aprendeu a amar, jamais entenderá o verdadeiro significado do amor, além da imagem poética de um coração, mas sem a profundidade de sentir o que de fato é. Soraya Medeiros é jornalista. Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Cuiabá Notícias

Tempo da criação

Deusdédit de Almeida Papa se tornou referência em relação aos grandes desafios da humanidade O Papa Franscisco, se tornou uma referência internacional em relação aos grandes desafios da humanidade neste momento da história, sobretudo em relação a crise socioambiental e climática.   Em sua encíclica Laudato Si (louvado seja-2015), sobre o cuidado com a casa comum e na exortação “Laudate Deum”(Louvai a Deus-2023), sobre a crise climática,  ele faz um chamamento para  todos os homens de boa-vontade,  para colaborar com a salvação do planeta, a nossa casa comum.  Porquanto, como somo seres vivos, somos parte do meio ambiente. Somos frutos do ar que respiramos, da água que bebemos e dos alimentos que consumimos.  Portanto, a destruição do planeta é, também, nossa destruição. Há uma percepção clara que o avanço do aquecimento global vem causando eventos climáticos cada vez mais extremos, com mais velocidade e mais intensidade. Não são castigos Divinos, mas consequências das ações ou intervenções nocivas e agressivas humanas na natureza. Na verdade, os eventos climáticos extremos são vinganças da própria natureza contra sua depredação. É dentro deste contexto que se situa esta iniciativa do Papa Franscisco de propor a celebração do “Tempo da criação”. Sem dúvida, é uma iniciativa educativa muito sugestiva e oportuna.  O tempo da criação terá início no dia 1º de setembro, com a missa de abertura, às 9:00 HR, na Catedral e vai até o dia 4 de outubro, festa de S. Francisco de Assis, patrono da ecologia. Em que consiste o tempo da criação? É tempo de reflexão, discussão e oração pelo planeta e pelo fortalecimento da consciência ecológica e ambiental. Os esforços das Instituições públicas de defesa do meio ambiente são louváveis e importantíssimos, porém, é indispensável e absolutamente necessária a participação, de cada cidadão. O tema para o Tempo da Criação de 2024 é: “ESPERAR E AGIR COM A CRIAÇÃO”. São as “as primícias da esperança”, inspirado na Carta aos Romanos (8,19-25). Os tempos em que vivemos mostram que não nos relacionamos com a Terra como um presente do nosso Criador, mas como um recurso a ser utilizado. Olhar a natureza só como instrumento de lucro, é uma relação deletéria com a natureza. “A Criação sofre” devido ao nosso egoísmo e ações insustentáveis que a prejudicam, mas nos ensina que a esperança está presente na espera, na expectativa de um futuro melhor. O sétimo mandamento da lei de Deus diz: Não furtarás”. Este mandamento da santa lei de Deus tem uma dimensão social e ambiental.  Manda respeitar, também, a integridade da criação, não se apropriando, egoisticamente, dos bens da natureza, como os seres animados (vivos) e inanimados (solos, águas, ar, pedras), os  animais e plantas,  os quais estão, naturalmente, destinados ao bem comum da humanidade: passada, presente e futura (Catecismo da Igreja Católica, n. 2415). A encíclica Laudato Si afirma que hoje, “temos uma verdadeira dívida ecológica” (Ls,51). Recordo, também, as palavras do secretário geral da ONU, Antônio Guterres, na COP 27: “estamos na estrada para o inferno climático. A humanidade tem uma escolha: cooperar ou perecer, ou é pacto de solidariedade climática, ou um pacto de suicídio coletivo”. Em 2021 criamos na Arquidiocese de Cuiabá, com ajuda de alguns leigos e leigas, com boa formação científica e ambiental, a pastoral da ecologia integral na arquidiocese de Cuiabá, inspirado no estudo da “laudato Si”. A Pastoral da ecologia Integral é uma pastoral transversal e não setorial, isto é, perpassa todos os grupos, pastorais, movimentos e associações eclesiais. Ela busca mobilizar as forças vivas da Igreja para uma ação orgânica em defesa da natureza e da proteção ambiental. São temas que já fazem parte dos conteúdos da catequese das crianças.   A pastoral da Ecologia lembra que Deus privilegiou o Mato grosso com sua obra criadora, emoldurando a nossa cidade verde com três ecossistemas: Pantanal, Cerrado e Amazônia. Temos responsabilidade de preservar para as gerações futuras os encantos e exuberâncias desses três biomas naturais.  É preciso pensar globalmente e agir localmente, cada um fazendo a sua parte e agindo no seu quadrado: Limpando a calçada e o quintal, cuidando das plantas ornamentais das ruas, plantando arvores frutíferas, evitando queimar o lixo no quintal ou jogando-os nos córregos e organizando o lixo seletivo (orgânico e reciclável). São medidas simples, fáceis e que fazem a diferença no mosaico da sustentabilidade ambiental. A natureza agradece! Deusdédit de Almeida é sacerdote Diocesano na Catedral de Cuiabá. Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Cuiabá Notícias

Incertezas

Ele abre os olhos em mais uma manhã de segunda-feira. O despertador há muito ficou para trás. Começa o dia atrasado, a mente confusa, o gosto de cabo de guarda-chuva na boca. Só faltava essa. Ele se cobre novamente e começa a pensar no que fez na noite passada. A incerteza do ontem andando de mãos dadas com a certeza de que alguma coisa aconteceu. A mão trêmula segura a gasta escova de dentes. Ele se dirige para a sala e passa longe da garrafa de café, masbem perto da garrafa de whisky, do bom, mas nada do bem. Um, dois, três goles e pronto lá se vai o primeiro copo do dia. Que dor é essa que ele tenta de todas as formas aplacar?Uma dor que o acompanha desde muito cedo. Interações desastrosas, brigas, confusão, solidão e finalmente um dia ele encontra o álcool, poço sem fundo implorando para afogar suas mágoas. O medo de ter cometido algo impensável o perturba. A ressaca da noitada se cura no próximo copo, mas a ressaca espiritual, essa meu amigo, é difícil de curar. Neste exato momento aproximadamente 8 milhões de pessoas no Brasil, passam por histórias muito semelhantes ou iguais às do nosso personagem. No mundo todo esse número é ainda mais alarmante, 140 milhões de pessoas sofrem do transtorno bipolar do humor, de acordo com dados da Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB). Somente com tratamento adequado um bipolar poderá viver em paz, sem o medo do amanhã e principalmente do hoje. Buscar ajuda, fazer terapia ou procurar uma linha mais holística vai ajudar muito. O diagnóstico sempre irá partir de um médico psiquiatra, é ele que vai definir como será o seu tratamento, sua liberdade emocional, mental e espiritual. Os pensamentos ainda são confusos? (Sim) Brigo com todos o tempo todo? (Não) Controlo as minhas alterações de humor e já identifico quando não estou bem? (Sim) Estou feliz? (Sim) Leia mais sobre o tema e perceba o comportamento das pessoas à sua volta, alguém pode estar precisando de ajuda. Estender a mão aos que ainda sofrem é um gesto nobre e bonito. Lembre-se, não precisa acenar para as câmeras e mostrar o que está fazendo, o bom disso tudo é ajudar e claro, ser discreto, apenas deixar ir, inclusive nossas vaidades. Luiz Fernando é jornalista em Cuiabá. Criador do método CURE que auxilia no tratamento para a bipolaridade. @luizfernandofernandesmt Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Cuiabá Notícias

Ambulatório Trans – Hend Santana

Rosana Leite Sensibilidade da primeira-dama atendeu pedido de entidades civis organizadas Por muitos anos, foi tema de pedidos, reuniões, conversas e rodas delas, sobre a necessidade de instalação e funcionamento do ambulatório de transexualidades em Mato Grosso. No dia 23 do corrente mês e ano, foi inaugurado tão importante serviço.                 A Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso, de maneira insistente, chamou muitos encontros com pessoas representantes de entidades civis organizadas e governo, com a finalidade de trazer empatia, sensibilidade, amor, e necessidade de cumprimento da Constituição Federal. Os direitos humanos foram mencionados, e os muitos princípios que devem garantir a dignidade da pessoa humana e democracia no país foram matéria. A saúde é direito de todos, todas e todes, e dever do Estado!                 A luta por conquistas de direitos, mesmo em um Estado Democrático e de Direito, onde o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana é mola propulsora, não tem sido a mesma para todas as pessoas.                   É visível que a comunidade LGBTQIAPN+, por ausência de proteção legal, padece sobremaneira, passando por marginalização, violência e falta de oportunidades. O acesso à saúde tem sido um tópico de sofrimento à parte, com falta de serviço adequado, e a falta de capacitação de pessoal, se mesclando aos demais preconceitos institucionais.                 Desde 2008 foi instituído no país o processo transexualizador, que passou a permitir o acesso a procedimentos com hormonização, cirurgia, modificação corporal e genital, e o acompanhamento da equipe multidisciplinar. Assim, várias portarias do Ministério da Saúde advieram, inclusive, passando a abarcar mulheres e homens trans pelo serviço.                 Mato Grosso era um dos únicos Estados que não possuía o ambulatório transexualizador. A falta vinha trazendo sofrimento atroz para o segmento “T”. Muitas pessoas se automedicaram, fazendo uso de hormônios inadequados. Outras recorreram a hormônios para animais. Notícias de tragédias pela falta do serviço, infelizmente, foram reais. Isso ocorreu por falta de suporte e cuidados apropriados, que acabam comprometendo a saúde física e psíquica de quem necessita do aparelho estatal.                   O Ambulatório Trans de Mato Grosso receberá o nome da ativista Hend Santana. Formada em publicidade, foi servidora da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso, na Rádio Assembleia. Atriz, cantora, produtora cultural, curadora de arte, pensadora, ativista, radialista e entrevistadora, Hend encantava a quem com ela teve o prazer de conviver. Com coragem, a artista ergueu sua voz para temas de extrema relevância, já que se intitulava: trans, gorda e não-binária.                 A sociedade mato-grossense não estava preparada para a partida prematura da Hend. Havia uma infinidade de capítulos que clamavam pela sua presença e representatividade.                 Através da sensibilidade da primeira-dama Virgínia Mendes, que atendeu a um pedido das entidades civis organizadas que fazem parte do movimento LGBTQIAPN+ de Mato Grosso, Hend Santana será homenageada e eternizada com o nome do Ambulatório Trans.                 Linn da Quebrada disse: “Olha só, doutor, saca só que genial: sabe a minha identidade? Nada a ver com a genital”.                   É de se comemorar! Hend Santana, presente!                                     Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual e mestra em Sociologia pela UFMT. Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Cuiabá Notícias

O comércio varejista de Cuiabá

Junior Macagnam Pensar local e agir global o desafio do comércio cuiabano O comércio varejista e o processo de venda têm evoluído de forma acelerada nos últimos anos, no entanto a adaptação dos lojistas e empresários locais não tem seguido na mesma velocidade. Hoje as compras on-line garantem um processo de hiper personalização e oferecem experiências cada vez mais únicas e pessoalizadas.   Enquanto grandes plataformas de e-commerce crescem exponencialmente e aumentam os processos de Direct to Consumer (D2C), empreendedores locais enfrentam o desafio de se adaptar e competir nesse novo cenário digital. Como, então, esses empresários, podem ser inseridos nesse mundo digital e prosperar. O caminho é pensar localmente e agir globalmente.  O marketing digital é uma ferramenta poderosa para alcançar e engajar clientes. Ele possibilita a utilização de diversas formas para aumentar a visibilidade do produto e assim atrair novos clientes.    E é com esse objetivo que a CDL Cuiabá através de parcerias oferecerá consultoria em marketing digital para apoiar o comércio cuiabano a desenvolver estratégias eficazes com o objetivo de atrair novos clientes, aumentar vendas e a utilizar ferramentas de análise de dados para medir o sucesso de suas campanhas.  A meta é capacitar o varejo da capital a oferecer experiências que grandes plataformas não conseguem replicar e isso pode incluir produtos exclusivos e customizados algo raro nas prateleiras das grandes varejistas.   O contato pessoal, o atendimento personalizado, além do relacionamento próximo do comércio local possibilita a conexão emocional com os clientes. Esta relação que só a compra presencial cria faz com que o lojista identifique e promova seus diferenciais únicos. A vantagem é o olho no olho que permite coletar feedback dos clientes e promover melhorias contínuas.  Outra boa maneira de alcançar um público maior sem um grande investimento inicial é utilizar marketplaces como Amazon e Mercado Livre ambos reúnem infraestrutura e tráfego.  Estar também no mundo on line e conseguir interações diretas com os clientes, garante a evolução da empresa com foco na necessidade dos consumidores.  A transição para o mundo digital pode ser desafiadora, mas com as estratégias certas e o apoio adequado, empresários locais irão competir e prosperar.  A chave é adotar uma abordagem proativa, investir em tecnologia acessível e focar em oferecer experiências exclusivas e personalizadas aos clientes.   A revolução da hiper personalização no e-commerce apenas começou, e aqueles que se adaptarem a esta nova realidade estarão bem posicionados terão sucesso e garantirão o futuro.  A CDL Cuiabá está comprometida em apoiar todos nossos associados neste processo de evolução. Para isso oferecera recursos, treinamentos e suporte contínuo para garantir que todos possam navegar com sucesso por essa transição digital.   Juntos, é possível construir um futuro para que empreendedores da capital se mantenham competitivos e prosperem no mundo digital  Junior Macagnam é presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL Cuiabá). Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Cuiabá Notícias

O Velho Machão no Século XXI

RENATO DE PAIVA PEREIRA Ontem briguei com minha mulher. Briguei mesmo! Também não era pra menos! Cheguei em casa com fome e a encontrei fazendo alguma coisa muito atraente, que de imediato, não consegui identificar. Peguei uma colher pra experimentar a iguaria e ela ralhou comigo. Vocês sabem o que é ralhar? Acho que hoje se usa mais estressar. É quase a mesma coisa, embora ralhar seja mais bonito que estressar, vocês não acham?   Aí eu fiquei muito zangado e falei pra ela, assim na cara limpa, olho no olho: você é muito má. Ela fez que não ouviu e continuou mexendo a panela. Então dei espaço pra minha macheza e continuei: maldosa! mesquinha! E outros adjetivos semelhantes.   Pra evitar mais confusão, porque sei que quando me exaltado posso ser imprevisível, saí da cozinha e bati a porta com força. Bati mesmo! Eu sou muito ruim quando me enfezo!  Mesmo assim, com tanta demonstração de força, não me dei por satisfeito, abri de novo a porta e pondo a cabeça pra dentro da cozinha falei quase gritando: crudelíssima!   Ela parou de mexer a panela, olhou pra minha cara que estava do lado de dentro da cozinha, e às gargalhadas falou: crudelíssima??? ha,ha,ha, essa é boa! E fechando a carranca: Vá se f*. Você e seu vocabulário do século passado. Aí a casa caiu. Fiquei bravo, bravo de verdade!  Comigo mesmo, claro. Como pude me exceder tanto e descontrolar-me a ponto de chamá-la de má?  Onde se viu isto? Assim, sem mais nem menos, só por conta de um guisado (alguém sabe o que é isso?)? Ainda mais, qualificar tão rudemente, com superlativos agressivos, uma esposa de mais de 40 anos de vida comum? Sabe o que ela estava fazendo?  Uma polenta. Dessas com carne e caldo de galinha, não desses caldos comprados em supermercado, mas daquele feito das partes nobres do frango com horas de paciencioso cozimento e adição regrada de água no tempo certo. Como no caso bíblico de Esaú, que comprou o prato de sopa do irmão Jacó por um preço absurdo, eu estava disposto a pagar muito (metaforicamente) por parte da polenta com filé e caldo de galinha que fervia no fogão. Só que ela tinha dono e não estava disponível: era um presente pra Baby, que fazia dez anos. Pois é, a polenta feita com tanto esmero, não era para o bico dos humanos, estava reservada para a festa das cachorrinhas, Baby e Mel, que mandam e desmandam aqui em casa. A minha janta – requentamento do almoço – estava na geladeira, bastava levar ao micro-ondas. Fiz isto, depois do “parabéns a você”, que emocionado ajudei a cantar, enquanto as cadelinhas comiam o mimo inesperado.  Voltando à Bíblia: “Não é lícito tirar o pão dos filhos para lançá-lo aos cachorrinhos”, disse Jesus para a mulher samaritana.  Só que os tempos são outros e as prioridades também. O versículo hoje seria mais ou menos assim: “não é justo dividir com os homens a polenta que é das cachorrinhas”. Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor. Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Cuiabá Notícias