Canjica, pé-de-moleque, arroz doce, curau de milho verde e pamonha são algumas das comidas típicas dos festejos juninos pelo país, mas você sabe como surgiram esses quitutes? A diversidade de pratos e suas várias maneiras de preparo carregam consigo um pouco da história do Brasil, da miscigenação das culturas indígena, africana e europeia.
A festa junina tem essa origem europeia e foi transplantada para o Brasil pelos portugueses ainda durante o período colonial. Apesar das tradições culturais de cada região brasileira, algumas comidas e bebidas se tornaram comuns nessas festas em praticamente todo o país, ganhando o paladar do povo e se tornando quase sinônimo gastronômico das Festas Juninas.
Em entrevista ao Cuiabá Notícias, a professora do curso de Gastronomia do Univag Centro Universitário, Aline Werner explica que esses alimentos não foram escolhidos à toa.
“As comidas típicas em específico da nossa região aqui da da baixada cuiabana ela tá muito relacionada com as próprias influências indígenas, europeias como Portugal, Espanha, Africanas. Além disso também a questão da subsistência que são os insumos da nossa própria terra, que são a carne seca, a banana da terra que acabavam também sendo muito utilizados na criação de comidas típicas para Festas Juninas e também das festas de Santo que são tradicionais da nossa região, como a festa de São Benedito por exemplo”, explica a professora.
O milho por exemplo, um ingrediente básico para diversos pratos, na época do Brasil colonial, era colhido justamente em junho, o tempo de São João. O grão é dos ingrediente mais usado nas festas juninas, ele está presente em pratos salgados, como o milho-verde cozido servido com sal (e manteiga a gosto), e também na pamonha (iguaria feita a partir do milho-verde cozido ralado misturado com leite de vaca ou leite de coco, adicionado sal e manteiga, formando uma massa).
Além do milho, há outros ingredientes das receitas, como o amendoim, o arroz, a mandioca, a carne seca, banana da terra, entre outros. Receitas essas que, ao longo dos séculos, e dependendo da região do Brasil, foram ganhando novos ingredientes, outros nomes e diferentes maneiras de serem produzidas.
“A questão da subsistência na alimentação e por consequência nas comidas de épocas festivas elas se relacionam pelos tempos mais antigos da dificuldade de acesso que se tinha na baixada cuiabana então a população precisava, por assim dizer se ‘virar’ com os insumos que existiam na região naquela época. Daí vem muitos preparadas que a gente acaba utilizando com peixes, com a carne seca o próprio maxixe a banana da terra, que deram origem há muitos pratos típicos da baixada cuiabana, como a Maria Izabel, que é carne seca com arroz, farofa de banana, peixe seco, entre outros”, frisa.
Além das comidas, as bebidas típicas ganham destaque nas Festas Juninas brasileiras, como o quentão, feito com cachaça, água, açúcar, gengibre ralado, limão, canela e cravo. Na baixada cuiabana os licores são os mais lembrados.
“Os licores também são tradicionais daqui, como o próprio Canjinjin, o quentão que na região sul é mais tradicional o de vinho, mas aqui é mais de cachaça que é mais da nossa cultura”.
Os doces também chamam a atenção nos festejos juninos. O arroz-doce, por exemplo, é um dos pratos que não podem faltar em uma arraiá. Preparado com arroz cozido em leite e açúcar, temperado muitas vezes com casca de limão, canela em pau, cravo. Fica mais gostoso se for polvilhado com canela em pó por cima.
“O arroz doce que é mais origem portuguesa que sofreu influência com insumos da baixada cuiabana, a canjica que tem mais descendência africana, então a gente tem muitos preparos que vem das colheitas que vem da subsistência”, destaca.
A professora lembra que em qualquer época do ano, ou festejo, a comida é sinônimo de celebração da vida.
“É importante lembrar que comida é celebração. E as festas juninas são alegria, e por ser uma festa muito cultural ela traz essa celebração, essa junção dessa alegria que é o povo brasileiro, essa mistura dos povos colonizadores, dos povos portugueses, espanhóis juntamente com os africanos, indígenas que são muito presente na nossa região. A Festa Junina por si só, já é esse momento de alegria e traz muito dessa presença do que é essa mistura toda brasileira e principalmente aqui da baixada cuiabana que também traz da sua própria personalidade nessas festas tradicionais”, finaliza.