Quem trabalha com tratamento oncológico sabe que a palavra câncer é tão temida e que muitas vezes não pode ser nem pronunciada. O fato é, se a palavra é tão temida, imagina realizar exames preventivos para descobrir o diagnóstico? É um tal de: “quem procura acha”. Pense bem, ainda bem. Por isso, quando o câncer vira pauta na mídia, nós profissionais da saúde devemos usar ao máximo a situação para fazer um alerta à população.
Por isso venho falar do câncer de bexiga, doença diagnosticada no empresário e apresentador Roberto Justus. Graças a exames periódicos realizados pelo empresário, foi detectado um tumor maligno que logo foi retirado e hoje ele está bem, mostrando, mais uma vez, como a detecção precoce salva vidas.
O câncer de bexiga, inclusive, está amplamente ligado a fatores externos e que poderiam ser evitados. O tabagismo, que é grande vilão, pode aumentar o risco de uma pessoa ter câncer no órgão e está associado à doença em 50-70% dos casos. Aqui incluo também os cigarros eletrônicos, afinal, não há garantia de qual seja a sua composição. O tabagismo passivo, que são as pessoas não fumantes que convivem com fumantes, também fazem parte desse grupo.
Outro fator é a exposição aos derivados do petróleo, diversos compostos químicos e poeira de metais. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca) os trabalhadores da agricultura, construção, fundição, extração de óleos e gorduras animais e vegetais, sapatos, manufatura de eletroeletrônicos, mineração, siderurgia; indústria têxtil, de alimentos, alumínio, borracha e plásticos, sintéticos, tinturas, corantes, couro, gráfica, de metais, petróleo, química e farmacêutica, tabaco; cabeleireiros e barbeiros, motorista de caminhão, pintor, são algumas profissões que podem apresentar risco aumentado de desenvolvimento da doença.
Um fator determinante da doença que não está ligado ao meio ambiente, é a idade e a raça. Homens brancos e de idade avançada são os grupos com maior probabilidade de desenvolver câncer na bexiga. Segundo estimativa do Inca, em 2022 havia a previsão de 11.370 diagnósticos da doença, sendo 7.870 em homens e 3.500 em mulheres (2022 – INCA).
Mas quando devo ligar o sinal de alerta? Ai que está, nem sempre esse sinal é claro, mas a dica que eu dou é: observe a sua urina e o hábito de urinar. Na maioria dos casos, o sangue na urina (hematúria) é o primeiro sinal de alerta e nem sempre a quantidade é suficiente para alterar a cor da urina, podendo deixá-la alaranjada ou menos frequentemente vermelha escura. Nessas situações, o ideal é realizar o exame de urina, que pode detectar pequenas quantidades de sangue.
Observe ainda alterações na micção, como urinar com frequência maior que a habitual, sensação de dor ou queimação ao urinar, urgência em urinar, mesmo quando a bexiga não esteja cheia, problemas para urinar ou fluxo de urina fraco, segundo informações da Oncoguia. Quando os sintomas estiverem associados à dor lombar, impossibilidade de urinar, perda de peso e apetite, dor óssea e inchaço nos pés, procure o médico imediatamente, porque esses são sinais de que o câncer de bexiga possa estar em estágio avançado.
A detecção da doença pode ser feita por exames clínicos, laboratoriais ou radiológicos, tanto de pessoas que apresentem algum sintoma, como rastreamento em grupos que têm maiores chances de desenvolver a doença, como homens e fumantes. O ideal é estar em contato com o seu médico e não se desesperar ao perceber algum sinal, afinal, existem outras doenças que possuem os mesmos sintomas.
Lucas Bertolin é cirurgião Oncológico no Hospital de Câncer de Mato Grosso e Hospital Santa Luzia de Matupá.