Que orgulho para suas famílias e que alegria para todos nós
Até o momento em que escrevo, apenas essas duas jovens atletas foram as responsáveis por colocar o Brasil no lugar mais alto do pódio nos Jogos Olímpicos de Paris.
Beatriz Sousa no judô e Rebeca Andrade na ginástica artística.
Uma é forte, capaz de derrubar as adversárias no tatame. Outra, delicada, capaz de alçar voos improváveis nas diversas provas de sua modalidade.
Ambas são ágeis e determinadas. Ambas oriundas de famílias modestas. Ambas sofreram privações e enfrentaram preconceitos. Resistiram e venceram. Que orgulho para suas famílias e que alegria para todos nós!
Devemos, é claro, expressar nosso reconhecimento e homenagem a todos os demais atletas olímpicos brasileiros. Somente o fato de chegar a disputar uma Olimpíada já indica a grandeza e o sucesso de um esportista. Todos eles merecem aplausos. Nenhum desonrou o nosso uniforme com práticas antiéticas, como lamentavelmente fizeram os futebolistas argentinos que entoaram cânticos racistas ao final da Copa América.
Mas é certo que um povo como o nosso, emotivo e apaixonado por esportes, queria muito uma vitória para chamar de sua. E quem a trouxe, até agora, foram Beatriz e Rebeca.
Paradoxal, não é mesmo? Duas mulheres lavando a alma do país que trata tão mal as mulheres, registrando um estupro a cada seis minutos e mais, todos os dias, quatro feminicídios e 709 agressões a mulheres no ambiente doméstico. Um país cuja cultura machista ainda prestigia na vida pública personagens misóginos que fazem declarações do tipo “feia demais para ser estuprada”.
Duas negras representando o país onde o racismo ainda se expressa todos os dias em toda parte: nas entrevistas de emprego, nos corredores de mercados e shoppings, nas abordagens policiais e até nas brincadeiras em parquinhos infantis.
Beatriz e Rebeca, do pódio esportivo, nos fazem descobrir que o Brasil de sucesso tem origem na luta e no suor, na fé e no trabalho. Sem soberba, ostentação ou deboche. Com simplicidade, alegria e lágrimas.
Que o feito extraordinário dessas duas jovens seja inspirador para milhões de meninas pelo Brasil afora. Que seja também pedagógico e ajude a destruir as muralhas de preconceitos, explícitos ou dissimulados, que se perpetuam em nosso belo país.
Obrigado Beatriz e Rebeca! Vocês fizeram nosso povo vibrar e sorrir.
Luiz Henrique Lima é conselheiro certificado e professor.