ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS
Na semana passada a apresentadora Ana Hickmann narrou a violência doméstica sofrida. Vivendo em união por mais de 20 anos, a celebridade não foi poupada em passar pela terrível situação.
Segundo contado pela imprensa, tudo aconteceu na cozinha da mansão do ex-casal. A apresentadora conversava com o filho, de apenas 10 anos, quando a agressão aconteceu. O agressor não havia gostado do teor da conversa entre mãe e filho, agredindo a sua companheira de tantos anos. Primeiramente, ela foi admoestada pelo agressor, quanto à conversa com o filho. Seguidamente, a artista foi pressionada por ele contra a parede, que ameaçou lhe dar “cabeçadas”. Assim, Ana tentou sair da cozinha em busca do celular, sendo alcançada pelo algoz, que teria fechado o braço esquerdo da apresentadora na porta, ocasionando a lesão corporal. Ela conseguiu trancar o homem para fora da cozinha e acionar a polícia. Covardemente, como fazem tantos, o marido vai embora da casa antes da chegada da viatura policial. Escoltada até o hospital para aferir sobre o machucado, foi constatada a contusão no cotovelo.
No caso narrado, a mulher lavrou o boletim de ocorrências, mas optou por não fazer pedido de medida protetiva de urgência. Com várias mensagens de afeto por ela, após a exposição perante a mídia, a celebridade faz manifestação pública de agradecimento por tanto carinho.
O fato apresenta algo bastante reflexivo: um homem agredindo a companheira pelo teor da conversa dela com o filho. Claro que a agressão estava “desenhada” e poderia eclodir a qualquer momento. Entretanto, por ela não possuir liberdade para conversar com o filho sobre o assunto desejado, salvo melhor juízo, mostra que já poderia estar sendo tolhida em outras ocasiões.
Por outro viés, o homem proferiu manifestação confirmando as agressões, mencionando religião, afirmando nervoso momentâneo, e falando sobre o filho do casal. Algo de novo nos fatos mencionados? Invariavelmente o arrependimento surge com desculpas, uso dos filhos e filhas, e falas tentando um resgate da união desgastada por insultos.
O caso mencionado externa, mais uma vez, que as mulheres, quaisquer delas, não se encontram blindadas das muitas violências, principalmente a doméstica e familiar. As desculpas não fogem ao “mais do mesmo”. Após os fatos criminosos, atitudes de arrependimento e escusas são comuns. Nesse caso apresentado, o homem ainda tentou se valer da fama da mulher, para dizer que ele nada representa perante a sociedade, se comparado a ela, “jogando” com a sociedade como “coitado”. Afirmou, ademais, o agressor, que teme ser afastado do seu filho.
Como toda violência doméstica e familiar, a vivida por Ana Hickmann, é mais uma a aparentar que as mulheres não são respeitadas antes, durante, e após o fim do relacionamento. São culpadas, até mesmo, por terem se sobressaído como celebridade. No último vídeo dela foi narrado não estar bem, pois ainda está se recompondo do crime, mostrando como grande preocupação o filho. Não há como saber sobre a vida da apresentadora antes desse fato. Se já passava pela violência, ou se foi a primeira vez. Em regra, as mulheres não buscam ajuda na primeira agressão. Não é tolerável qualquer agressão. Buscar ajuda o quanto antes, pode evitar outras tantas violências, impedindo, também, os feminicídios.
ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS – é Defensora Pública Estadual e mestra em Sociologia pela UFMT.
Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do site de notícias Cuiabá Notícias.