A representatividade como a causa para o empoderamento feminino

Foto: Silviane, Thamyres, Amanda e Antonieta são exemplos de mulheres inspiradoras

A luta do sexo feminino no decorrer dos anos para ter seu reconhecimento na sociedade e a tão sonhada equidade de gênero ainda é uma batalha árdua diariamente. O empoderamento feminino é um assunto cada vez mais debatido.

Contudo, até mesmo nesse contexto, é importante evidenciar que há recortes que mostram a desigualdade de raça e classe até mesmo entre as mulheres.

A mulher negra ainda é preterida em diversos âmbitos da sociedade, devido ao machismo e racismo. Dessa forma, prova-se que a resistência para esse grupo é indispensável para enfrentar as discriminações raciais e étnicas.

Felizmente, em meio a essa realidade, é possível encontrar mulheres pretas que possuem  trajetórias inspiradoras. Com histórias de vidas marcantes, elas mostram um lado do empreendedorismo e militância feminina pouco abordados.

Conheça quem são quatro mato-grossenses que transformaram suas vidas ao dedicar para essa causa. 

Thamyres – trancista e empreendedora

Foto: Reprodução/Instagram

A primeira delas, Thamyres Brito de 28 anos, viu no momento de sua  transição capilar, a sua paixão pelas raízes.  Em 2017, ela se encontrou no mundo das tranças após ficar desempregada e grávida de seu segundo filho.

‘’Abri uma página no Instagram com o nome Criola Braids e dei início aos trabalhos.  Foi algo muito rápido e rentável nos primeiros anos, até que  no ano de 2019, por um sério problema pessoal tive que interromper o trabalho’’, relatou.

Thamyres ficou afastada das atividades por sete meses após ficar internada em uma clínica de reabilitação e, em 2020, voltou com seu trabalho. Hoje, comemora a sua redescoberta como profissional: ‘’Vontade de reconquistar todo o tempo perdido, e desde então está sendo maravilhoso. Me descobri nessa profissão’’, contou a trancista.

A empreendedora diz que a missão de seu trabalho é enaltecer a beleza de cada mulher que procura os serviços. Ela ainda exalta a importância das tranças para a identidade e autoestima das mulheres pretas.

‘’As tranças são importantes pois elas ajudam no processo de ressignificação de cada mulher preta que se desprende do padrão que a sociedade impôs por décadas. Elas desmistificam que só mulheres com cabelos lisos são bonitas. As tranças entram para auxiliar nesse processo [transição]  que é muito difícil para todas’, explicou.

IG: @criola_braids

Silviane – professora e CEO

Foto: Reprodução/Instagram

A doutora em sociologia, ativista, professora e CEO, Silviane Lopes da Silva, de 40 anos,  tem uma longa trajetória na causa negra. 

Sua carreira no empreendedorismo veio desde cedo. Ainda criança, Silviane revela que dava ‘’toques’’ nas embalagens de produtos que sua mãe vendia. E na adolescência, começou a vender os doces e salgados que sua mãe fazia.

Na juventude, Silviane decidiu estudar para adquirir mais conhecimentos. Ela cursou as graduações de História, Pedagogia e Letras  se especializou em Sociologia. Mas sempre gostou de liderar movimentos de valorização da cultura africana. Na área, ela tem o seu trabalho reconhecido por diversas representações do movimento negro, com um currículo invejável e vasta experiência em articulações.

Há 9 anos, a socióloga atua no mercado do ‘’afroempreendedorismo’’. Silviane é CEO da empresa ‘’Potências Negras Criativas’’ que tem o intuito de ajudar mulheres negras a empreenderem, fomentar pequenas empresas, promover treinamentos, organizar feiras e produção de eventos de pessoas pretas.

São produzidos acessórios, roupas, telas, arte culinária, shows, cenários entre outras atividades. Silviane conta com orgulho sobre o sucesso de seu projeto: ”Nossa empresa surgiu no Mato Grosso e hoje já atuamos com parcerias em 14 estados da federação”.

Para a empresária e socióloga, a iniciativa de fomentar os pequenos negócios é uma forma de realizar os sonhos de um grupo que necessita desse cuidado e incentivo.

” A partir da economia criativa podemos reconhecer os saberes quilombolas, das pessoas pretas, LGBTQIA afroempreendedores que precisam de capacitações e incentivo para realizar seus sonhos”, explica.

Ela também fez parte do grupo de transição do governo Lula, convidada para compor o núcleo dos estudiosos que traçam os novos rumos da luta pela igualdade racial em toda a nação brasileira.

IG: @silvianeramoslopes

Amanda – empresária de moda

Foto: Reprodução/Instagram

A empreendedora Amanda Conceição de Carvalho, de 29 anos, é uma das ‘’pupilas’’ do ‘Potências Negras’. Ela deu o pontapé inicial em sua vida como empresária no cenário da pandemia em 2020. Por pertencer ao grupo de risco, a jovem, que hoje é mãe de três crianças – Dandara, Isaac e Zaila – decidiu inaugurar o brechó on-line quando estava grávida do seu segundo filho, e se via em um momento de vulnerabilidade econômica e social. 

‘’Um dos meus propósitos é falar de moda numa perspectiva preta e antirracista, sem as lentes coloniais da branquitude e também falar em moda numa perspectiva coletiva, pois depois de todo o meu processo de aprendizado muitas mulheres, principalmente mulheres negras contribuem para que o brechó permaneça de pé. Por trás de todo nosso trabalho, têm muitas mãos femininas que viabilizam tudo que foi realizado até aqui’’, afirmou.

Para Amanda, na sociedade existe um padrão de beleza que é majoritariamente branco. O brechó pertence à moda sustentável e sendo conduzido por uma mulher preta, quebrando muitos paradigmas impostos. 

‘’A moda tá aí pra ser acessível, democrática e decolonial, onde a gente possa expressar através das nossas cores, beleza e estética o que contribuiu muito para nossa autoestima, principalmente a autoestima da mulher preta’’, concluiu.

IG: @jinga.brecho

Antonieta ou Nieta – Professora e ativista

Foto: Reprodução/Instagram

Antoniela Luisa Costa ou Nieta, como é conhecida,  é uma das vozes importantes do movimento negro em Mato Grosso. Sempre falante, ela teve uma infância difícil financeiramente, mas sempre teve forte influência na militância por meio de seus pais.

Seu pai, Geraldo Henrique Costa, fundou o Grupo de União e Consciência Negra, o Grucon, na década de 80,  cuja a participação efetiva dela, foi possível aflorar sentimento de resistência e empoderamento. 

Com o grande incentivo do pai, Antonieta conta que se dedicou muito aos estudos, fez Magistério, Pedagogia, Geografia e cursou especializações. 

Após a morte do patriarca, nos anos 90, Nieta ainda permaneceu no grupo por mais 12 anos, até decidir criar um movimento cuja vertente abordasse a discussão de gênero.

Em 2002, ela fundou o ‘Instituto de Mulheres Negras’ criado para trabalhar o empoderamento de mulheres negras. 

”Quando se empodera uma mulher negra, se trabalha todas as áreas: saúde, educação, emprego, renda, segurança. Especificamente esse trabalho vem de um processo formativo. A gente faz a formação das mulheres, por meio de rodas de conversa e oficinas que são realizadas nas comunidades e também aqui na ‘Casa das Negras’”, contou.

A professora evidencia que a mulher negra está em todo o espaço da sociedade, mas que ainda não tem a visibilidade necessária. Para Nieta, somente por meio da implantação  de políticas públicas e da educação nas escolas que o cenário poderá mudar.

”O que precisa ser conquistado é o lugar de fato nosso. Nós ocuparmos o nosso lugar de fala, nós ocuparmos o lugar que também é nosso. Precisamos de mais políticas públicas e ações afirmativas para diminuir esse vácuo que ainda existe entre mulher negra e brancas, o momento é de retomada de todas as políticas públicas. A sociedade precisa discutir racismo, machismo, meritocracia, branquitude. Não dá para mudar se a gente não discutir essas pautas que são urgentes e precisam ser discutidas, principalmente, no âmbito da educação”, afirmou.

IG: @antonietaluisacosta

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