WILSON GARCIA
A vida é uma jornada repleta de surpresas, algumas boas, outras nem tanto. Uma dessas surpresas, ou melhor, uma tempestade inesperada, acontece quando o médico diz: “Você tem câncer.” Esse é o ponto de partida da jornada com a saúde mental no diagnóstico do câncer.
Receber a notícia de um diagnóstico de câncer é como ser atingido por um raio. Tenho a impressão que ao dar a notícia aos pacientes, o mundo desmorona à volta deles, e de repente, tudo parece incerto. A palavra “câncer” carrega um peso emocional imenso, cheia de estigmas e medos profundos para a qual ninguém está preparado.
Não é apenas o medo da morte iminente que assombra, mas também a montanha-russa de preocupações que se segue. Qual será o tratamento? Será eficaz? Como isso afetará a vida? E os efeitos colaterais? A incerteza em relação ao futuro se torna uma sombra constante.
A jornada emocional após o diagnóstico do câncer é complexa e muitas vezes desafiadora. Para a maioria dos pacientes essa jornada começa com a negação. Eles querem acreditar que o médico está errado, que o diagnóstico é um engano. Pedem para refazer exames, procuram uma segunda opinião, qualquer coisa para negar a realidade que está diante de si.
Em seguida, vem a raiva. “Por que eu?”, uma raiva intensa, um sentimento de injustiça que os consome. A barganha também faz parte do processo. Prometem que serão uma pessoa melhor, que farão qualquer coisa para se livrar dessa doença.
A depressão, no entanto, é a fase mais difícil. É como se um peso esmagador cai sobre a pessoa. Perdem o interesse nas coisas que costumavam amar, enfrentam dificuldades para dormir e, muitas vezes, se sentem apáticos em relação à vida. A depressão é um adversário difícil, e enfrentá-la enquanto se luta contra o câncer é um desafio extraordinário.
A aceitação vem depois de receber o apoio necessário. Com o tempo, o paciente é capaz de compreender que a doença é uma parte da sua vida, mas não a definição dela. É preciso estar determinado a enfrentar o tratamento com coragem e seguir em frente.
A ansiedade e o estresse também fazem parte da jornada. A incerteza sobre o resultado do tratamento e o medo constante da recidiva são como sombras persistentes. A qualidade do sono, ou a falta dela, afeta a capacidade de recuperação e enfrentamento.
No entanto, descobrir que não se está sozinho nessa jornada é reanimador. A família e amigos desempenham um papel vital no apoio emocional. Eles dão força para quem está fraco e amor para quando se está com medo. A família desempenha um papel particularmente importante, e o cuidador, aquele que fica ao lado do paciente dia após dia, merece um reconhecimento especial.
Receber apoio psicológico é crucial para o paciente e para todos os envolvidos. O câncer afeta não apenas o paciente, mas também a família e os amigos. Todos precisam de ajuda para enfrentar essa tempestade emocional.
Depois de vencer o câncer, a pessoa ainda carrega as marcas emocionais da jornada. O medo da recidiva permanece, mas também há uma nova apreciação pela vida. O câncer pode ser uma oportunidade para ressignificar o que é realmente importante. Aprender a valorizar a família, as pessoas à sua volta, os sonhos e a qualidade de vida.
A jornada com a saúde mental e o diagnóstico do câncer é árdua, mas também transformadora. Aprendemos, pois o médico também aprende, a enfrentar medos, a valorizar a vida e a encontrar força na adversidade. O câncer nos ensina lições valiosas sobre a importância da saúde mental e o poder do apoio emocional. Em tempos de Setembro Amarelo, lembramos a todos que a saúde mental desempenha um papel crucial no enfrentamento do câncer e que o apoio emocional é fundamental para aqueles que enfrentam essa jornada desafiadora.
WILSON GARCIA – é médico mastologista, especialista e cirurgião oncológico, e professor universitário.
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