A anistia e o desrespeito à igualdade

SONIA MAZETTO

A criação de leis destinadas a promover a equidade parecem mais como mera retórica do que compromisso efetivo. Um exemplo dessa contradição é a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Anistia em relação ao descumprimento das cotas de gênero e raça, um tema que lança luz sobre a aparente falta de seriedade no tratamento das leis de igualdade.

É difícil não interpretar a proposta de anistia, especialmente no contexto de cotas de gênero e raça, como um desrespeito flagrante àqueles que há muito lutam por representação e igualdade nos âmbitos políticos e sociais. Como mulher, vejo a ideia de anistia para partidos ou indivíduos que não cumpriram as cotas de gênero estabelecidas por lei como um ato de desonestidade em relação ao direito das mulheres de ter representação igual na política.

Já temos enfrentado desafios desde os primórdios na política. Será suficiente ter um número definido de cadeiras para mulheres? Questiono a eficácia de tal proposta para saber até onde vai a seriedade das leis. Parece que criam regras para mostrar compromisso com a igualdade, mas não estão dispostos a aplicá-las rigorosamente. Em vez disso, oferecem perdão, um “tudo bem”, e pretendem começar de novo? Esse é o primeiro ato de desrespeito: agir como se as leis não precisassem ser cumpridas, como se fossem simples formalidades sem importância real. 

A anistia dos partidos é como uma forma de evitar a responsabilidade e afeta negativamente a participação das mulheres na política, pois ao invés de estimular gera além da injustiça, uma forma de perpetuar a desigualdade. 

Independentemente da discussão sobre a PEC, que surgiu devido à pressão para que os partidos cumpram suas promessas, a verdadeira igualdade de gênero, raça e cor só será alcançada quando houver uma mudança cultural. As mulheres sofrem dentro da política já o desrespeito e a desvalorização porque os homens acreditam que sabem mais que as mulheres, que entendem mais de política que mulheres, que política é um assunto de homens, não é um assunto de mulheres.

A população, incluindo as próprias mulheres, precisa entender que essa igualdade só acontecerá quando começarem a votar em mulheres, independentemente de sua capacidade, como tantos homens inexperientes já foram eleitos. 

As mulheres não precisam ser supermulheres, mas devem usar suas capacidades intelectuais e conhecimento. A população precisa acreditar que as mulheres podem mudar essa realidade política ao votar nelas. As mulheres estudam, se esforçam e compreendem os problemas, e precisam ter voz na política para defender as necessidades femininas. 

São tantos movimentos para acabar com a violência contra a mulher, que esta falta de representação feminina na política é uma forma de violência política contra as mulheres, e é crucial que esse assunto seja discutido abertamente nos lares. 

Quando as mulheres desempenharem papéis de liderança em todos os setores, incluindo a política, isso não apenas trará mais respeito nesse âmbito, mas também em todas as esferas da sociedade, incluindo dentro dos lares. A mudança começa com a conscientização e ação, e é hora de as mulheres ocuparem seu espaço na política para promover uma verdadeira igualdade de gênero.

As organizações desempenham um papel essencial ao se posicionarem a favor da igualdade de gênero e da luta contra a violência às mulheres. A mobilização conjunta de instituições que promovam a defesa das mulheres é crucial para criar uma base sólida para a causa. Ao sair do discurso e agir de maneira concreta, as organizações podem fortalecer as mulheres e fazê-las sentir-se valorizadas e prontas para enfrentar os obstáculos. O momento é decisivo para determinar se a igualdade de gênero será mais do que apenas palavras, mas sim uma realidade efetiva.

(*) SONIA MAZETTO é Gestora de Potencial Humano, Terapeuta Integrativa, Fonoaudióloga e Palestrante.

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