Poetas mato-grossenses falam sobre a dedicação à arte literária

O Cuiabá Notícias conversou com os poetas mato-grossenses Marta Cocco e Eduardo Mahon; confira

No dia 21 de março comemora-se o Dia Mundial da Poesia, a arte literária mais antiga em todas as culturas e continentes.

 

Essa data comemorativa foi instituída pela Unesco em 1999, com o intuito de reconhecer os movimentos poéticos e a tradição literária, incentivar a leitura, promover a diversidade linguística e celebrar essa forma de arte, entre diversos outros objetivos. Sendo uma arte milenar, a poesia conta com diversos autores, nacionais e internacionais.

 

Mato Grosso tem 12 poetas vivos vinculados à Academia Mato-grossense de Letras e que publicaram livros literários. A equipe do Cuiabá Notícias conversou com dois destes poetas.

 

Marta Cocco

É autora de 16 livros, tendo recebido quatro prêmios literários,  ocupa a cadeira nº 18 da AML e também é professora de literaturas da língua portuguesa na UNEMAT, na graduação e pós-graduação, membro do grupo de pesquisa LER/UNEMAT/CNPq.

Arquivo Pessoal

Marta Cocco

O que a levou a se tornar poeta?

Desde criança eu me sentia motivada a ler e a escrever e tinha uma tendência a me emocionar muito com as coisas, com a natureza, com as novidades, com os fatos. Depois, na escola, essa tendência foi se acentuando, por conta do contato com os livros, que eram escassos, mas garantiram o encantamento essencial. A escrita do primeiro poema, entretanto, foi lá pelos 12 anos, para um jornalzinho da escola, feito com folhas mimeografadas. E o primeiro livro somente aos 25. Mas nada foi muito planejado, as coisas iam acontecendo em função das atividades programadas pela escola e depois pela universidade.

 

Onde busca inspiração?

Na vida, no que acontece de bom e de ruim, na língua – no potencial criativo da língua, e também lendo outros/as poetas.

 

Existe um ritual?

Não, a poesia acontece onde e quando a gente menos espera. Às vezes acordo no meio da noite com um verso, com uma imagem. Se não levantar pra escrever, perco pra sempre. Às vezes surge um insight e paro o que estou fazendo, quando é possível, e escrevo. Geralmente ocorre quando estou comovida com alguma situação. Raramente ocorre de eu escrever porque alguém pede um poema sobre um tema específico etc. É raro, mas ocorre também.

 

Qual tipo de texto literário mais gosta de escrever?

Gosto de escrever poemas que falem da condição humana, das dores humanas diante das circunstâncias socioculturais, das paixões e do próprio exercício da poesia.

 

Qual a importância da data comemorativa?

As datas comemorativas são importantes porque nos convidam a pensar sobre. É uma forma de chamar nossa atenção para aquilo que deve ou pode ou necessita ser celebrado, seja por ser algo conquistado com muita luta, ou, no caso da poesia, por ser uma das atividades mais antigas da humanidade que ainda nos acompanha e certamente ainda tem muito a dizer sobre nós mesmos.

 

Como a arte literária pode ser melhor propagada nas escolas?

Esse é um desafio muito grande, porque as escolas têm de encontrar naquilo que é flexível e aberto no interior da programação curricular, um espaço para os estudantes conhecerem e vivenciarem as diferentes formas de arte, especialmente a literária que mobiliza competências e habilidades de leitura e de escrita. Na nova BNCC, por exemplo, a literatura passou a ser um mero campo dentro do componente de língua portuguesa. Isso pode ser um problema se não houver profissionais engajados e seguros da importância da arte na formação humana e cidadã. O caminho mais imediato, diante do que está posto nas diretrizes curriculares, está na valorização dos profissionais, no incentivo à formação continuada e na disponibilização de materiais e meios que possam tornar a escola um verdadeiro centro de formação para a vida.

 

Eduardo Mahon

É advogado, poeta e escritor e autor de 25 obras literárias.

Arquivo Pessoal

Eduardo Mahon

Onde busca inspiração?

Acredito pouco na inspiração, mas sim na transpiração, podendo ter uma motivação inteligente e boa, é preciso trabalhar com o texto. Quem escreve profissionalmente não acredita em espontaneidade, porque realmente o insight acontece, mas com a produção finalizada é necessário repensar na escolha das palavras e que um detalhe banal na linguagem corrente passa a ser o principal fundamento, já que a principal matéria prima do escritor é a palavra.

Qual tipo de texto literário mais gosta de escrever?

Gosto muito de escrever sobre a própria linguagem e gosto de explorar a semântica das palavras, então uma expressão que tem sentidos múltiplos muito me encanta. No meu livro a Medusa de Aço foquei em como nós observamos a cidade. De maneira geral, a cidade é “cantada” em verso sempre de uma forma negativa, sempre como um acréscimo da natureza, de pureza, encantamento e afeição.

Qual a importância da data comemorativa?

A data comemorativa é sempre um marco, já que chama atenção para alguma coisa, desperta uma discussão, um debate e uma lembrança. A poesia é uma forma de escrita confessional, muito misteriosa, não existe intermediário, em geral os autores se integram e se revelam mais rapidamente, com mais intensidade na poesia. E eu acho que é isso que precisamos, mais humanidade, talvez esse seja o mérito desta data. 

 

 

Acesse o grupo do Cuiabá Notícias no WhatsApp e receba notícias atualizadas

  (CLIQUE AQUI)

“Ao comentar você declara ter ciência dos termos de uso de dados e privacidade
do Portal e assume integralmente a responsabilidade pelo teor do
comentário. “

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *