Procurador-geral de Justiça de Mato Grosso, Deosdete Cruz Júnior, defendeu uma reflexão aprofundada e mais ações para combater o crime organizado. O chefe do Ministério Público afirmou que “política de ‘bandido é bandido morto’ fomenta a criminalidade organizada” e que é necessário garantir a dignidade das pessoas, pensando na ressocialização para que este problema chegue ao fim.
O procurador disse que o crime organizado é um problema complexo e não há soluções fáceis. Também citou que os estudiosos deste tema entendem que um fator que fomenta a criminalidade é a deficiência do sistema prisional.
“Às vezes o cidadão acha que tem uma resposta muito simples para um problema muito complexo, de simplesmente prender pessoas, mas onde estas pessoas estão sendo presas? […] O que é que o Estado tem direito de tirar de quem está preso? Apenas a liberdade, não a dignidade […] pessoas que estão presas onde precisam se revezar para dormir, que têm uma alimentação de baixíssima qualidade nutricional ao ponto do próprio sistema prisional reconhecer a necessidade de permitir um ‘mercadinho’ lá dentro, nós precisamos repensar estas questões”, defendeu.
Deosdete afirmou que o combate à criminalidade não pode vir apenas com a aplicação da força, que sozinha não tem trazido os resultados necessários, mas é preciso considerar as condições em que as pessoas estão custodiadas, que pode acabar piorando a situação.
“Estas pessoas são presas fáceis da criminalidade organizada porque também são cooptadas muito facilmente, superpopulação carcerária, falta de programa de ressocialização, nós temos visto alguns movimentos do Estado para tentar melhorar isso, com reformas em unidades prisionais, acredito que muito ainda pode ser feito”.
O chefe do MP entende que, do jeito que as coisas são hoje, o sistema prisional causa efeito contrário ao esperado, refletindo no crescimento das facções criminosas no Estado.
“Enquanto não houver uma reformulação da política de sistema prisional esse número só vai aumentar, porque é uma condição de [mais] segurança para eles lá dentro, do que fora […] Nós temos que combater a organização, mas preservar o elemento humano que está ali, independente do que ele tenha feito. Aquela política de ‘bandido é bandido morto’ fomenta a criminalidade organizada. Nós temos que entender o seguinte, o que a Lei permite tirar do indivíduo é apenas a liberdade, jamais a sua dignidade”.
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