Resíduos da produção de cerveja, mais precisamente a cevada, estão virando complemento nutricional para a ração de ovinos em Mato Grosso, juntamente com os de soja e milho recolhidos nos armazéns. Uma economia circular e com um melhor custo-benefício.
Localizada em Campo Verde, região centro-sul de Mato Grosso, a Cabanha Cambará é um exemplo de sustentabilidade econômica.
A Cabanha foi fundada por Pedro Paulo Montagner, mais conhecido como Pedro Cambará. ele chegou na região no final da década de 1970, acompanhando a família que saiu do Rio Grande do Sul. Junto com eles veio a tradição de criar carneiros.
A Cabanha Cambará foi a primeira de Mato Grosso a trabalhar com a genética de ovinos.
“Hoje, a principal atividade da Cabanha é a venda de reprodutores e matrizes para melhoramento genético. Mas, tem também os animais de abate, que não dão registro, animal que não classifica na seleção e aí vai para a comercialização de carne”, conta Pedro.
Na propriedade são encontradas três raças de ovinos: Santa Inês, Dorper e Texel. O rebanho total varia entre 800 a uma mil cabeças, dependendo da época do ano e do fluxo do mercado.
Dejetos viram fertilizante para pasto
O criador explica que parte dos carneiros são criados à campo, em uma área de 15 hectares de pastagem. Enquanto, outra parte dos animais ocupam os estábulos suspensos, os quais contam com um piso de grade plástica, que além de mais confortável, deixa passar todos os dejetos, ficando, assim, o local sempre limpo.
Segundo Pedro, ao invés de comercializar o esterco dos ovinos, ele optou em transformar o mesmo em fertilizante para o pasto.
“Ele fica quatro, cinco, seis meses amontoado fazendo o processo de fermentação. Depois, este esterco é jogado nos pastos. Eu aprendi uma coisa com o meu avô, que tudo o que você tira e não coloca um dia acaba. Então, colocar o esterco, devolver na terra, aquilo que você tirou na pastagem é fundamento e é isso o que eu faço. Eu o deixo curtir, quando começa a chuva eu esparramo ele e o capim é isso o que vemos. Um espetáculo que vira”.
Farelos complementam a nutrição animal
Na alimentação, além do pasto, as ovelhas recebem ração como complemento nutricional. A ração do rebanho é basicamente composta por subprodutos. Resíduos de soja e milho recolhidos nos armazéns e cevada, sobras do processo de fabricação de cerveja.
“Se olhar lá atrás, cinco anos, era tudo jogado fora. Hoje é tudo aproveitado. Essa é a nossa ração e os animais respondem. Tendo capim, massa para eles comerem e você dar uma ração dessas todos os dias de tardezinha, que é o que nós fazemos… Você vê o potencial dos nossos animais. A estrutura corporal. É uma alimentação nobre, pode ter certeza”, frisa Pedro.
Ainda conforme o produtor, Mato Grosso possui potencial para criar ovinos. Contudo, “ninguém consegue imaginar o potencial que tem. Olha o absurdo de resíduos que nós temos dentro desse estado para usarmos na alimentação desses animais?”.
E quando o assunto é ovinocultura em Mato Grosso, para ficar melhor só falta um frigorífico certificado que venha a possibilitar a comercialização da carne para fora dos limites de Campo Verde.
“O Brasil inteiro tem déficit na carne ovina. Noventa por cento do que consumimos é importado. Para que importar num país tão rico como o nosso Brasil e, principalmente, o Mato Grosso? Você sabe que tudo é política e eu confio muito que em breve, no máximo um ano, nós vamos estar com o nosso frigorífico aqui em Campo Verde funcionando”.
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