O aumento do número de incêndios no Pantanal preocupa quem vive e produz no bioma. Desde o início do ano, foram contabilizados 3.372 focos de calor no bioma, 2.128% a mais que no mesmo período do ano passado, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que considera os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (onde a quantidade de ocorrências disparou nas últimas semanas).
O alerta quanto a tal crescimento no comparativo com 2023 leva em conta a intensificação precoce dos incêndios, que costuma ocorrer a partir do mês de agosto.
Em Mato Grosso soluções e alternativas que possam minimizar os impactos e evitar a destruição vista em 2020 são buscadas pelas entidades do setor produtivo, órgãos especializados, Poderes Executivo e Legislativo, além de entidades e ONGs.
Nesta terça-feira (25) foi realizada na Assembleia Legislativa de Mato Grosso a primeira reunião da comissão especial criada para debater e propor ações capazes de minimizar o problema dos incêndios.
A comissão é uma continuidade da comissão de Meio Ambiente da Assembleia, presidida pelo deputado estadual Carlos Avallone (PSDB-MT).
O parlamentar que desde novembro do ano passado a comissão de Meio Ambiente vem trabalhando quanto a questão dos incêndios, quando já se possuíam previsões de que 2024 seria um ano muito seco. Segundo ele, as informações eram apontadas em um relatório recebido da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).
“Nós estamos tomando algumas providências. O grande problema do Pantanal é com a logística. Ele começa em um ponto de difícil acesso. O caminhão não chega, só de avião e o fogo depois de duas horas ninguém apaga mais. Você tem que esperar uma chuva para ele apagar”.
Entre as ações, destaca Carlos Avallone, que estão sendo realizadas estão a limpeza de estradas vicinais, ampliação de pistas de pousos para que os aviões possam atender as ocorrências, bem como a abertura de poços artesianos na Transpantaneira, com o intuito de criar ambientes para que os animais possam tomar água e que os bombeiros possam encher os caminhões.
Atualmente no Pantanal mato-grossense existem dois focos de incêndio, frisa o parlamentar. Um sob controle, enquanto o outro, iniciado em Cáceres, já “pulou” o Rio Paraguai e está na região de Poconé. Neste momento atuam cerca de 25 bombeiros, além de aviões, com o intuito de evitar que tome maiores proporções.
“Mato Grosso nunca esteve tão preparado para os incêndios. São muitas as reuniões. Nós estamos preparados com equipamentos, aviões, máquinas, com uma série de coisas. Isso significa que os incêndios não serão graves? Não. Infelizmente serão graves e nós temos que estar todos unidos e quanto mais gente conseguirmos trazer melhor será”.
Início do período de seca preocupa
Historicamente os índices de focos de calor são maiores no estado ao final de julho e em agosto. O crescimento observado em 2024 já em junho, conforme Carlos Avallone, preocupa.
“São 30, 40 dias antes. Se não tomarmos cuidado, chegar no incêndio rápido e conter esse começo dele, ele pode tomar proporções muito difíceis. Isso nós sentimos em 2020 e 2021, quando os bombeiros chegavam nas fazendas e tínhamos muitas abandonadas. Como pode ter fazenda abandonada? Por isso, o trabalho da Assembleia com a Lei do Pantanal, inclusive”.
Da reunião desta terça-feira (25) ficou acordada a realização de uma audiência pública no dia 9 de julho. Nela deverão participar todos os entes envolvidos em prol do combate aos focos de calor.
Ainda conforme o deputado estadual, a participação do setor produtivo nas ações é muito importante.
“O setor produtivo primeiro é vítima e pode ser o causador. Então nós temos que tomar o cuidado deles estarem bem informados”.
O diretor-técnico da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Francisco Manzi, frisa que algumas áreas no estado estão há cerca de 60 dias sem chuvas.
“Isso todo ano é preocupante, mas previsível. Todos os anos nós temos seca. O Pantanal, como é uma área de uso restrito, embora 92% esteja dentro das áreas privadas, ele tem cada vez mais dificuldade de trabalhar. Ele é muito mais melindroso”.
Francisco Manzi lembra que hoje no Pantanal existem menos de um milhão de cabeças de bovinos. O bioma já foi o “berço da pecuária de Mato Grosso e outros estados”.
“Os pantaneiros já não estão dormindo. Eles reclamam da dificuldade que possuem. Estão muito preocupados. Cada vez mais apreensivos. Mas, é fundamental que se entenda que isso é um problema da população como um todo”, ressalta Francisco Manzi.
(Canal Rural MT)