O Dia das Mães de uma mãe solo

 EVELYN RIBEIRO

Este é o primeiro artigo que escrevo sobre algo que vivenciei depois que me tornei mãe, há 4 anos. A coragem bateu após uma breve conversa com uma amiga também mãe solo, e que havia feito uma postagem no fim de semana sobre acordar um pouco mais cedo que a filha para poder tomar um café e ter alguns momentos consigo mesma. Isso é algo que vai ficando raro com a rotina do dia a dia e com a missão de ser responsável por um ser que muda totalmente a rota da nossa vida. Enquanto celebramos o Dia das Mães, é crucial iluminar essa experiência, honrar suas protagonistas e reconhecer os desafios únicos que enfrentam.

O dia delas passa a ser literalmente todos os dias. Depois que os filhos nascem a gente “só vai”, como diz a gíria. Há momentos bons, há momentos ruins e difíceis que exigem uma força e ao mesmo tempo trazem aprendizados que jamais vamos esquecer. Receber um abraço ou ouvir “eu te amo, mamãe”, às vezes soa como cura.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), mostrou que até o final de 2022 havia mais de 11 milhões de mães solo no Brasil. O estudo também apontou o aumento de 1,7 milhão de mães que criam seus filhos de forma independente no período de 2012 a 2022, passando de 9,6 milhões para 11,3 milhões.

Algumas dessas mães contam com rede de apoio ainda que pequena, outras contam apenas com si mesmas e não podem nem pensar em adoecer. Perdi as contas das vezes em que saí do trabalho mais tarde ou fui a algum evento à noite e recebi a pergunta: “Seu filho ficou com quem?

Filhos são bênçãos, transformam nossas vidas e nos apresentam o amor incondicional, mas confesso: nenhuma mulher sonha ou planeja seguir nessa jornada de forma solo, e se alguma afirmar isso, te garanto: não é verdade!

É na maternidade que a gente para e pensa nossa trajetória, nossos sonhos, planos que poderíamos ou não ter realizado. Não fomos preparadas para lidar com o que dá errado. A vida não tem manual e a maternidade solo também não.

São tantas lutas que não caberiam aqui, mas há uma preocupação enorme com a educação, desenvolvimento, saúde, sustento, qualidade de vida, tempo de qualidade, guarda unilateral ou compartilhada, desgaste para a regulamentação da pensão para a criança e acordo das visitas no fim de semana – essa parte daria um outro artigo, mas vamos pular os detalhes).

A sensação de culpa e autocobrança para fazer dar certo a criação dos nossos filhos é grande. Não pretendo fazer juízo de valor ou comparações, mas todos sabemos que na nossa sociedade para o homem a parte de “seguir em frente” e ser pai, exige menos esforço e funciona com mais liberdade.

A vida social da mulher muda, ela passa a ser conhecida como a mãe de fulano e parece que nem é mais mulher, só mãe. Os novos relacionamentos são incertos e seguimos na luta pela sobrevivência, aliada a busca para recomeçar e ser feliz em todas as áreas. A solidão pode ser avassaladora, especialmente quando cercada por uma cultura que muitas vezes não reconhece ou valoriza seu papel. Nossas atuais e futuras escolhas pessoais e profissionais são feitas com base na nossa disponibilidade pós filho.

Nenhuma mãe vive como no comercial de margarina. Tenho um enorme respeito pelas mães que continuam casadas e conseguiram manter a família unida, assim como admiro as que souberam recomeçar após o processo de separação.

Neste Dia das Mães, deixo essa reflexão para todas elas e um abraço de acolhimento para todas as mães solos do nosso país, que às vezes só precisam ser vistas, respeitadas e acolhidas para redescobrirem sua força, sua essência.

Vocês são mulheres incríveis, não se esqueçam disso!

Feliz Dia das Mães!

 EVELYN RIBEIRO – é jornalista e pós-graduada em Comunicação Pública.

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