LUIZ HENRIQUE LIMA
‘O Pequeno Príncipe’ foi um livro de grande sucesso internacional no século passado e até hoje a obra de Saint-Exupéry é constantemente reeditada em vários idiomas. Uma de suas mais tocantes passagens trata da amizade entre uma raposa e o pequeno príncipe, exilado num minúsculo planeta deserto e isolado.
Recentemente, convidado a ministrar na Assembleia Legislativa gaúcha uma palestra sobre as inovações presentes na Nova Lei de Licitações – NLL, recordei-me de um dos diálogos entre o príncipe e a raposa.
“- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
– O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.”
O essencial é invisível para os olhos.
Essa mensagem da raposa pode ser aplicada em múltiplas situações de nossas vidas. Não apenas nos relacionamentos pessoais, mas também nos profissionais e acadêmicos, a raposa nos convoca a enxergar além das aparências e a não julgar, reagir e se posicionar somente diante do que observamos na superfície.
Quando a raposa assevera que “só se vê bem com o coração”, não está, como desdenharam alguns esnobes apressados, apelando para o sentimentalismo. Nada disso. A raposa nos convida a desenvolver a inteligência emocional e a empregar os recursos do córtex pré-frontal. Ultrapassando a mera experiência sensorial, com todos os vieses, heurísticas e reações automáticas do sistema límbico, a raposa nos conduz a, simultaneamente, exercer a compaixão e o pensamento crítico.
Quando somos sufocados pelo acúmulo de dados desestruturados ou bombardeados por desinformações, muitas vezes contraditórias e inúteis, o que os olhos veem é enganoso e pode conduzir a resultados desastrosas. Pode ser recomendável fechá-los e buscar inspiração em valores mais profundos e perenes.
Na mesa de um conselho de administração, por exemplo, a tomada de decisões estratégicas exige bem mais que a análise quantitativa de balanços e projeções. Na evolução do conhecimento, a simples observação da realidade visível não teria possibilitado as revoluções científicas e tecnológicas. E assim por diante.
No caso daquela minha palestra, enfatizei que, até então, todas as análises sobre a NLL destacavam as novas modalidades de licitação, hipóteses de dispensa, prazos, sanções etc., mas que havia na norma todo um conteúdo a ser descoberto, “visível apenas ao coração”: sustentabilidade, acessibilidade, inovação, mecanismos de governo digital, proteção de vítimas de violência doméstica, valorização do controle interno, entre outros temas relevantes.
Foi o segredo que aprendi com a raposa e que procuro sempre aplicar: só se vê bem com o coração.
LUIZ HENRIQUE LIMA – é Conselheiro certificado, professor e escritor.
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