A safra 2023/24 de soja ainda está sendo colhida em Mato Grosso e os produtores já se preparam para a próxima temporada. A escolha das cultivares a serem utilizadas, a partir de 16 de setembro, vem sendo realizada com cautela. O intuito é evitar ao máximo as frustrações e prejuízos observados no atual ciclo, caso a instabilidade climática venha a persistir.
Agricultor em Santa Rita do Trivelato, Enéas Glaucio Batistela tem como estratégia para garantir bons descontos, além de conseguir bons negócios nos insumos, a compra antecipada dos produtos. Com a safra 2024/25 não será diferente.
Ele conta que vem aproveitando a concentração de empresas na feira Show Safra BR-163, em Lucas do Rio Verde, para ir às compras. Entretanto, o atual cenário de desvalorização do grão e a elevação nos custos o está dificultando a alcançar sucesso na rotina.
“Está difícil de tomar essa decisão. A questão de preço está muito alta. O fertilizante baixou um pouco, mas em si o grão, para fazer a relação de troca, hoje está difícil para fechar a conta. Então, estamos esperando a tomada de decisão ainda para fechar os insumos”.
Enéas conta ainda que a cautela também faz parte da estratégia para a escolha das sementes. Decisão adotada, principalmente, pela indefinição climática. Ele pretende semear na safra 2024/25 uma área de 1.480 hectares com soja.
“Estamos vindo de um ano difícil de clima. Agora estamos vendo essa mudança de El Niño para La Niña. Então, a gente vê que não pode errar na escolha de variedades. Estamos aqui para isso. Tentar definir uma variedade que se encaixe melhor, que produza, pensando em seca também”.
Lançamentos de novas tecnologias
As incertezas quanto ao clima e as variedades a serem usadas na próxima safra de soja também preocupam o agricultor Gilberto Aberhardt.
“A indefinição ainda é muito grande entre nós produtores, o que nós vamos utilizar. Hoje eu não tenho definido quais são as variedades que vamos usar. Eu tenho duas variedades que se destacaram em produtividade. Então, nós temos que ter uma em qualidade e alto teto produtivo”, salienta o agricultor em entrevista ao Canal Rural Mato Grosso.
Sensibilizadas e também apreensivas com o atual cenário de baixa remuneração, além das incertezas no campo, as empresas do segmento de insumos agrícola pontuam que tem se esforçado para lançar novas tecnologias que venham auxiliar o produtor nessa tomada de decisão.
“Hoje, a empresa por si só ela está nessa força tarefa buscando bons materiais, que tem performado, visto a situação climática que a gente está vivendo. Agora foi época de El Niño, poucas chuvas. Uma condição adversa para a cultura da soja”, comenta o supervisor de desenvolvimento de mercado da Donmario, Eduardo Alves da Cruz.
Ainda conforme ele, a empresa está trabalhando em dois lançamentos para nichos de mercados diferentes.
“Temos situações onde um dos nossos lançamentos é para média fertilidade, para produtor que tem problema com resistência a cisto e com solo mais arenoso, e outro para uma situação com uma variedade já com biotecnologia, que é uma virada de mercado de soja e também com um ciclo mais precoce”, conta Eduardo.
O representante comercial da Boa Safra, Juliano Thiago Arthur Bueno, comenta que para a edição de 2024 do Show Safra BR-163 a empresa levou um portfólio com 39 materiais adaptados para qualquer tipo de situação. Ele frisa que o intuito é “agregar produtividade ao produtor e evitar perda no final, porque além da produtividade ele [produtor] visa também a janela da safrinha de milho, pois a safrinha é tão boa quanto a safra de soja”.
Estudos mostram possibilidades
Se a estratégia do agricultor é agregar rentabilidade no milho ou até mesmo pensar em uma terceira safra na propriedade, opções não faltaram durante o Show Safra BR-163, em Lucas do Rio Verde. Entre as vitrines tecnológicas, a Embrapa levou para a feira estudos com diferentes opções de culturas, que permitem ao produtor fugir de situações como a da safra 2023/24.
“Em épocas, por exemplo, de restrições hídricas, poucas chuvas, janela de plantio mais curta, principalmente para a segunda safra, é importante que o produtor tenha opções. E, a Embrapa tem estimulado muito diferentes opções de culturas para fugir dessas situações, como o gergelim, os feijões, o milheto, o sorgo. São diversas opções para o produtor não ficar amarrado entre soja e milho e trazer, principalmente, uma renda a mais para ele”, diz o pesquisador da Embrapa, José Ângelo Nogueira de Menezes Júnior.
Nesta 11ª edição, o Show Safra BR-163 cresceu 30% no espaço, ocupando 42 hectares de parque. O número de expositores também é maior este ano. São cerca de 470 expositores e mais de uma mil marcas no evento. A expectativa é que até sexta-feira (22) cerca de 100 mil pessoas visitem os estandes da feira.
Em relação ao volume de negócios, devido ao atual cenário de baixa remuneração no campo, a projeção dos organizadores não é de crescimento, mas sim de estabilidade. Por isso, a meta é de pelo menos repetir a movimentação financeira alcançada na última edição, que foi de R$ 8,5 bilhões.
Diretor de pesquisa da Fundação Rio Verde, Fábio Pittelkow, frisa que a feira é uma oportunidade para o produtor, “um shopping center de tecnologia, onde você pode acessar diferentes marcas, diferentes produtos”.
“Cada fazenda é uma unidade de produção e a gente precisa entender, observar os equipamentos que a gente tem disponível e absorver a melhor tecnologia desses equipamentos dentro da nossa lavoura”.
De acordo com o diretor executivo da Fundação Rio Verde, Rodrigo Pasqualli, diante da situação de desvalorização da soja e do milho, que vem diminuindo o faturamento, “o produtor precisa encontrar soluções para superar a crise e o evento tem essa missão de munir o produtor de estratégias e elementos para poder tomar a sua decisão correta e iniciar uma nova safra com entusiasmo”.