Presença de lagartas na pastagem preocupa em Mato Grosso

A forte presença de lagartas nas pastagens em Cáceres (a 225 km de Cuiabá), município com maior produção bovina de Mato Grosso, vem preocupando os pecuaristas. Enquanto algumas propriedades se desfazem do rebanho, outras já registram mortes dos animais por falta de comida. O município é referência na pecuária mato-grossense. São mais de 1,341 milhão de animais.

Por conta do ataque das lagartas, o pecuarista Eduardo Godoy já perdeu em torno de 600 hectares dos 1,4 mil hectares de pasto. Segundo ele, as mesmas vieram em maior número este ano e com mais agressividade, além de resistentes ao manejo.

“Geralmente temos essa surpresinha, mas é pouco. Bem pequena. Porém, esse ano foi um estrago muito grande. Nós estamos na quarta aplicação. Teve gente que fez cinco, seis aplicações. Teve pecuarista que teve a oportunidade de passar de avião e não está resolvendo o problema”.

Para evitar a morte de animais por falta de alimento, o pecuarista comercializou parte do rebanho de aproximadamente 1,6 mil animais. Eduardo comenta, ainda, que na tentativa de reduzir os custos com a ração, construiu uma espécie de confinamento emergencial para tratar do restante do gado.

“Nos desfizemos de 300 animais, vendendo abaixo do valor para não estar perdendo. Tivemos que improvisar com cocho, comida. Tivemos que jogar ração no chão, porque não temos estrutura. Teve gente que perdeu, não teve essa estrutura. Perder de fome é triste de falar e de se ver. Mas, é a nossa realidade hoje”.

Atraso no ciclo vegetativo

De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Cáceres, Aury Paulo Rodrigues, mesmo quem conseguiu combater o ataque de largartas, hoje está enfrentando um grande atraso no ciclo vegetativo.

“Perdas de 30%, 35% da área. Quem não combateu está tendo problema seríssimo de reforma e mesmo quem combateu, ela trouxe um atraso muito grande no ciclo vegetativo, porque vieram as chuvas e não está sendo suficiente para o capim poder se recuperar do estresse que ela causou”.

Para não deixar os animais morrerem de fome, os pecuaristas de Cáceres, revela o presidente do Sindicato Rural, estão adotando algumas técnicas de manejo, como a aquisição de ração.

“Ele foi comprar ração, implementar cocho para suplementar o gado que estava nas invernadas, porque as invernadas não tinham mais condições nenhuma dos animais sobreviverem lá. Saiu vaca parida por R$ 1,5 mil, vacas solteiras por até R$ 1 mil e assim sucessivamente, tentando amenizar o prejuízo”.

Ainda conforme Aury, em locais que existem cerca de 70% das plantas vivas, o criador tem buscado fazer a subsolagem, a calagem. “E, usa uma forma de usar um terço das sementes que iria usar. Onde as plantas morreram quase todas não tem outra maneira de começar tudo do zero”.

A preocupação dos pecuaristas é que a força tarefa adota como estratégia, para tentar recuperar a área consumida pela praga, seja em vão, uma vez que a proliferação de borboletas no campo acaba renovando o ciclo dos insetos no pasto.

“Tem muita borboleta voando pra todo lado e com certeza se continuar acontecendo esse ciclo de lagartas vai ter prejuízo novamente”, diz o presidente do Sindicato Rural de Cáceres.

Mais de uma espécie de lagartas

O engenheiro agrônomo Vinicius Novaes do Amaral explica que o ataque nas pastagens pode estar sendo realizado por mais de uma espécie de lagartas. Duas delas conhecidas pelos pecuaristas e outras que migraram da agricultura.

“As comuns das pastagens que é a coruquerê e a spodoptera. Mas, devido a integração lavoura e pecuária, que está tendo hoje nas regiões, principalmente para silagem, ou alguém que faz alguma rotação de cultura, está trazendo esses outros tipos de lagartas aqui para pecuária”.

Para o controle do inseto, o profissional recomenda o uso de alguns químicos e técnicas de manejo que têm apresentado resultados satisfatórios em algumas fazendas da região.

“Os Piretróides, organofosforados que são usados para o controle das lagartas. Tem fazenda que a gente fez cinco mil hectares de aplicação aérea em um dia, junto com a adubação e nutrição folear. Às vezes o pecuarista quer fazer por conta própria e não ajusta a dosagem e isso vai apenas dando resistência ao inseto. É um inseto que normalmente não dávamos muita atenção por achar que o controle era fácil, mas este ano ela está aí arrebentando”.

Canal Rural MT

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