NEILA BARRETO
A rodovia que liga Cuiabá a Chapada dos Guimarães se transformou em um tormento para turistas, moradores, estudantes, passantes e outros que necessitam chegar até a cidade de Chapada dos Guimarães. O assunto e o problema não são novos.
Chapada dos Guimarães está localizada na zona fisiográficas da Chapada, sendo parte da área da bacia Amazônica, onde estão os rios Teles Pires e Xingu e o afluente “Coluene”, que são ricos em peixe e possui cachoeiras de raras belezas. O Portão do Inferno, um despenhadeiro que circunda parte da estrada Cuiabá-Chapada, é impressionante pela sua imponência e mistérios. Forma um dos grandes “cânions” que integram o conjunto de atrações turísticas. O nome vem de um buraco profundo associado à garganta do diabo. O local é cercado por montes denominados “Dedo de Deus”, “Morro de Santo Antônio” e “Morro de São Jerônimo”. Este pequeno paraíso abriga ainda araras, arenito da serra e dunas de areia.
Jornais da época (1939-1977) trazem informações sobre a estrada que liga Cuiabá a Chapada dos Guimarães-MT, incluindo a situação do local denominado “Portão do Inferno”, em Mato Grosso. Por exemplo, o Departamento de Estradas de Rodagens de MT, em aviso de Tomada de Preço 005/1977, publicado em jornal de 1977 já tornava público a contratação de empresa de engenharia para elaboração de projeto final de engenharia para obras de artes especiais, localizadas na rodovia 305, trecho Cuiabá-Chapada dos Guimarães, sobre os rios Mutuca, Peixes, Claro, Coxipó Mirim e no portal denominado Portão do Inferno, cujo edital foi publicado em 25 de março de 1977.
Em 1º de junho de 1978, o jornal o Estado de Mato Grosso, publicava a interdição do “Portão do Inferno” assim: “Tráfego Impedido: Chapada dos Guimarães” e, o motivo era nobre: “por motivo de construção de um viaduto, sobre o portão do inferno, no trecho da rodovia, o Detran-Departamento de Trânsito de MT, informa que só haverá condições de tráfego para caminhões leves, caminhões de dois eixos em carroceria de até 5 metros de comprimento, situação que vivenciamos nos dias atuais.
Em 2014, o governo do estado de Mato Grosso realiza avaliação técnica do local e decreta situação de emergência, após parecer da defesa civil do governo do estado. Em 2022, o corpo de bombeiros da capital detecta desmoronamento no local com preocupações para turistas e viajantes.
Em agosto de 2016, o Governo do Mato Grosso ressalta que muitos dos veículos que caíram no “Portão do Inferno” são casos de “desova”. Mas informa que tem um projeto para a construção de uma nova rodovia ligando Cuiabá ao município de Chapada dos Guimarães, a MT-030, com 53 quilômetros de extensão. Mas, assim como acontece em outras regiões do estado, a nova rodovia ainda está em fase de projeto. E, no momento como está? Qual a situação da MT-030? Atoleiro total.
Em 07 de Abril de 2011, o governo do estado anuncia a transferência da construção do Teleférico de Chapada dos Guimarães para a Agecopa para agilizar o início das obras, por meio de um decreto autorizando a Agência Estadual de Execução dos Projetos da Copa do Mundo Fifa Brasil 2014 (Agecopa) a executar as obras do teleférico no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães. A assinatura do documento transferiu parcialmente o contrato administrativo da Secretaria de Estado de Desenvolvimento do Turismo (Sedtur) à Agecopa. São tantas as novidades por aquelas bandas que, como aparecem, somem e, a população fica “a ver navios”, coisas de políticos e políticas e suas varinhas mágicas.
Em 2017, um projeto de contemplação do portão do inferno, inovador, arrojado e de qualidade foi apresentado à imprensa pela prefeitura municipal de Chapada dos Guimarães. Por onde anda esse projeto? Visa a melhoria da rodovia e o turismo? “Um sonho para todo chapadense e mato-grossenses”.
O jornal “A Gazeta Digital” noticiou que imagens de satélites registraram movimentação de blocos do Portão do Inferno desde 2017, movimento este, intensificado em 2019. Por que o assunto não é priorizado pelo ICMBIO? Afinal o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, ICMBio, é o órgão ambiental brasileiro responsável por propor, implantar, gerir e proteger as unidades de conservação federais.
Não parece isso que o ICMBio vem fazendo. Pelo contrário, tem apenas colocado empecilhos para que o governo do estado de mato grosso possa resolver o problema. Enquanto isso, vidas vão se perdendo!
Qual o motivo da demora para em conjunto com outros órgãos e autoridades não resolverem a situação. Estão esperando uma tragédia como a do Capitólio? No Centro-Oeste de Minas Gerais, quando uma rocha se desprendeu de um cânion e caiu sobre uma embarcação onde estavam 10 pessoas. Todos morreram e 27 pessoas de outras lanchas ficaram feridas.
A população aguarda que autoridades, deputados, órgãos ambientais, governo do Estados e outros movimentos se juntem para resolver a situação da rodovia entre Cuiabá e Chapada, passando pelo Portão do Inferno o mais breve possível. Vaidades e politicagens devem ser desprezadas em benefício da população.
NEILA BARRETO – é jornalista, historiadora e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.