GUSTAVO DE OLIVEIRA
Nesta semana que se encerra hoje, tivemos duas ótimas notícias sobre importantes indicadores econômicos do estado de Mato Grosso, que nos indicam crescimento da economia e do emprego em nosso estado. Ambos sinalizam econometricamente um estado em pleno desenvolvimento, mas trazem consigo uma falsa ilusão: a de que não há pobreza.
A primeira notícia veio do IBGE, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística: Mato Grosso passou em 2021 o estado de São Paulo, e tem o segundo maior Produto Interno Bruto (PIB) por habitante entre os estados do país, perdendo apenas para o Distrito Federal. Enquanto na média nacional é de cerca de R$ 42 mil por habitante, no estado a soma das riquezas produzidas dividida pela população alcançou incríveis R$ 65 mil por habitante. Entre 2002 e 2021, o PIB do estado cresceu a uma taxa média anual de 4,5%, também a segunda maior do país.
A segunda notícia, também do IBGE, é a de que no fechamento do terceiro trimestre deste ano de 2023 o estado registrou a menor taxa de desocupação da sua história, que ficou em 2,4%. Isso tecnicamente significa que há ocupação para praticamente todos aqueles que desejam trabalhar e, possivelmente, há no estado mais vagas abertas para contratação do que pessoas preparadas ou dispostas a ocupar tais vagas. É o que em economia se chama de pleno emprego, um fenômeno que é muito difícil de ser atingido pelas imensas dificuldades que, todos sabemos, existem em gerar novos empregos pelo mundo na mesma taxa de crescimento da população.
Sendo assim, dos dois indicadores podemos extrair a (falsa) idéia de que tudo em nosso estado corre às mil maravilhas, e que não há como o mato-grossense médio não ter um melhor padrão de vida do que os demais habitantes de outros estados. Mas, infelizmente, não é em grandes indicadores e números globais que a nossa vida cotidiana se desenvolve: é preciso olhar os dados mais de perto para não tirar conclusões erradas destes números.
Primeiro, cabe ressaltar que a ocupação é diferente do emprego. Uma dona de casa, um estudante em tempo integral e outros atores da economia estão ocupados, mas nem sempre isso significa que suas ocupações lhes geram renda. Precisamos também observar que dentre os que estão realmente empregados, cerca de 35,8% são trabalhadores informais, ou seja, não trabalham com carteira assinada nem são empresários (donos de empresas). Isto equivale a quase 650 mil pessoas em trabalhos precários, sem as garantias que um contrato de trabalho oferece, e por isso têm alta instabilidade de renda e rotatividade em suas ocupações.
Adicionalmente, é fundamental perceber que o PIB do estado não é distribuído igualitariamente por todos os seus habitantes. Há uma nítida concentração de renda em nossa sociedade, fazendo com que poucos tenham um padrão de renda muito elevado (os chamados ricos e ultrarricos), enquanto a imensa maioria está situada na base da pirâmide de renda em Mato Grosso. No Brasil, 1% da população ganha mais de R$ 17 mil, enquanto 50% dos habitantes ganham em média R$ 537. Traduzindo, 1% da população ganha mais de 32 vezes o que metade dela percebe como rendimento.
A conclusão deste artigo, portanto, é óbvia: a riqueza existe, mas ela está na mão de poucos.
GUSTAVO DE OLIVEIRA é empresário em Cuiabá-MT
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