GABRIEL NOVIS NEVES
Credito à idade avançada, época em que temos todo o tempo a nosso dispor, a razão do apego desmedido que devotamos à religião.
Cuiabá sempre foi uma cidade onde pairou um ar de profunda religiosidade. Não está isso a significar que deixamos de pecar nossos pecadinhos veniais…
Ainda hoje, quantas mulheres não praticam o aborto em casa! No meu tempo, da parte do homem, ter uma ‘companheira’ — o termo concubina não me cheira bem — era algo como carregar um troféu.
Não bastasse ser até chique, certos políticos havia que eram bem avaliados por seus eleitores por conta desse quesito. Pode?!
Os tempos são outros. Sim, o aborto medicamentoso é acompanhado por ginecologistas de erguido padrão. Já as pacientes, atendidas na rede privada, hospitalar ou não.
Com o advento dos motéis, favorecidos por programas da internet, as amantes, em muito, foram lançadas num fosso de esquecimento quase brutal. O cardápio se reveste de contornos outros.
A bem da verdade, a nossa cidade, dada a globalização dos costumes e a indústria da venda de corpos — quer femininos, quer masculinos —, mudou muito seu perfil moral.
Pela ‘lei dos homens’, tudo se permite nos dias que correm. Daí por que me causa até certa estranheza encontrar tantos — já curvados ao peso dos anos — tementes a Deus.
A morte, esta continua indecifrável para a maioria das pessoas. Por curioso que possa parecer, quando chegam a uma certa idade, aí é que se agiganta a sua fé.
Por algum motivo será! A verdade é que, dum nada, eles alteram seus hábitos e voltam a se apegar aos princípios cristãos. Intento é vassourar seu caminho rumo à salvação.
A ninguém é dado ignorar: nascemos e, a cada dia que avançamos, estamos mais próximos do nosso encontro com o Criador.
Os espíritas acreditam na reencarnação. Os católicos, de sua vez, põem a crença na ressureição da carne. No que toca aos agnósticos, argumentam que, após a morte, tudo finda.
É o caso de perguntarmos ao nosso interior: e a alma, tão falada, ela de fato existe?
Ao médico, isto é quase de lei: cabe a ele agasalhar um sentido arraigado de fé. Ao investigar a anatomia, fisiologia, cardiologia, neurologia e patologia geral, o estudo sobre a alma fica escanteado. Tenho comigo que ela pode estar alojada no cérebro ou no coração.
Os médicos que se voltaram ao estudo profundo da Medicina, exercendo-a por anos a fio, não escondem que já presenciaram milagres. Disso, eu mesmo sou testemunha. Deus atua nos casos em que o homem se vê incapacitado de agir.
Não me acanha dizer: a quem tem fé, Deus não passa despercebido.
A carruagem do tempo não para e, maturidade a caminho, há dos que intercedemos por novo milagre: que o Pai não se esqueça de ‘espichar’, pouco que seja, a estrada dos nossos dias.
Certo é que jamais estamos preparados para morrer. Sempre alegamos que ainda há algo que precisamos fazer, não importa quão andados no tempo estejamos.
Que o Senhor ouça nossa voz!
GABRIEL NOVIS NEVES – é médico e ex-reitor da UFMT.
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