ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS
Dias atrás, em um supermercado conhecido da capital, pude presenciar, juntamente com a minha filha Gabriella, algo lamentável. O anonimato será mantido, como sempre, mas os fatos são fidedignos.
No período noturno, aproximadamente às 20 horas, estávamos comprando alguns itens faltantes para a nossa casa. No momento em que nos dirigimos ao caixa, vislumbramos uma mulher, também acompanhada da sua filha adolescente, passando a respectiva compra. Infelizmente, a cena presenciada não foi das melhores. A caixa do supermercado, uma mulher migrante, estava sendo extremamente desrespeitada pela senhora que passava a compra na nossa frente. Disse a senhora para a funcionária do supermercado: “Acho que você passou mais de uma vez o produto”. A caixa respondeu delicadamente: “Não, senhora, tenho certeza que passei apenas uma vez”. Seguiu o desrespeito: “Então me mostra no computador.” Disse, então: “Senhora, não tenho como descer na tela o que já passou, mas a senhora verá com o recibo que a entregarei.” A consumidora não parou: “Você não está querendo me mostrar, você passou duas vezes sim o produto”. A ofendida continuou: “Tenho certeza que não, a senhora verá.” Mais uma vez: “Não acredito em você”.
Todavia, finda a compra, a funcionária do supermercado com o recibo da compra em mãos, o entregou para a consumidora que viu que não havia qualquer duplicidade em nenhum dos produtos passados pela caixa. A acusadora, então, deixou o supermercado sem qualquer pedido de desculpas à ofendida. Quem sabe não tenha visto motivo para se desculpar…
Chegada a nossa vez de passar as compras, a Gabriella, minha filha, como se tivesse lendo as minhas reflexões, se dirigiu à caixa do supermercado a pedindo perdão pela atitude da brasileira. Afirmou que não levasse em consideração as agressões sofridas de uma pessoa que não a respeitou, e que não são todos os brasileiros e brasileiras a tratarem as pessoas migrantes dessa forma. A caixa, então, a respondeu que no seu país de origem é bacharel em direito, mas que no Brasil não tem o seu diploma de graduação reconhecido. Disse que infelizmente é discriminada por algumas pessoas por conta do sotaque.
Já no caminho de volta, conversamos a respeito do exemplo que a senhora que proferiu as palavras de discriminação contra a migrante estaria ofertando à sua filha adolescente.
A xenofobia se perfaz em desrespeito ou intolerância apenas pela pessoa ser de outra região. Vi que situações como essa estão mais próximas do que imaginamos, principalmente em momento de intensa migração para o Brasil.
A Lei da Migração é expressa: a política migratória brasileira rege-se, inclusive, pelo repúdio e prevenção à xenofobia, e a qualquer forma de discriminação. Exercitar a solidariedade e o amor deve ser premissa. Sempre!
ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS – é Defensora Pública Estadual e mestra em Sociologia pela UFMT.
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