Pavimentação da BR-158 vai melhorar a logística em Mato Grosso

A logística é um dos grandes desafios da agropecuária em Mato Grosso. No estado dono do maior rebanho bovino e da maior produção de grãos do país, escoar o que sai do campo envolve custos elevados e muita habilidade dos motoristas que percorrem estradas de chão.

Uma destas estradas é a BR-158, na região nordeste, que ainda tem um trecho de 120 quilômetros sem asfalto. Além da baixa visibilidade causada pela poeira, os motoristas que passam pela rodovia ainda enfrentam buracos e pontes de madeira.

“Às vezes aquilo que já está uma coisa forçada aqui, acaba de quebrar. E aquilo que você pensa que nunca vai quebrar, quebra aqui. Hoje por medo de assalto ninguém para para dar a mão um ao outro. Você tem que ir na sorte mesmo. Ponta de pedra, parafuso. Tudo dá prejuízo. Você não vê o que está debaixo da poeira. Você só vai ver depois que parar o caminhão”, comenta o caminhoneiro Dione de Oliveira Ulbinski.

Falta de infraestrutura e barreiras

Não bastasse a falta de infraestrutura, os motoristas que passam pela BR-158 ainda enfrentam dificuldades quanto a comunicação até mesmo para pedir “socorro”.

“É pneu. É pino. Não tem o que fazer. Não tem internet, borracharia é um ponto ou outro. É muito difícil. Pode pagar o frete que for, que ninguém quer vir. Muito ruim de andar. Não compensa. Um percurso que é para durar um dia, você leva três, quatro dias ou até mais. Isso quando não chove. Se chover não anda”, pontua o caminhoneiro Victor Hugo dos Santos Teixeira Martins.

A BR-158 conta quase três mil quilômetros de extensão e liga o sul ao norte do país. Em Mato Grosso, tem início em Barra do Garças e vai até Vila Rica, na divisa com o estado do Pará. São 800 quilômetros, dos quais 120 quilômetros são de chão. O trecho em questão corta a terra indígena Maraiwatséde, o que impediu a chegada do asfalto e atrasou o desenvolvimento logístico da região.

“Eu trabalho na rodovia desde 1982 e eu amo o que eu faço. Sou apaixonado por isso. Mas, hoje quanto vem para cá o corpo já não ajuda mais. E aqui não tem condições. Aqui tem hora que dá vontade de largar o caminhão. Abandonar e ir embora”, diz o caminhoneiro Cláudio Frezze sobre o desanimo de passar pela BR-158.

Na avaliação dos Xavantes, a pavimentação de tais 120 quilômetros da BR-158 causaria danos ambientais. O impasse durou anos, até que em 2020 o governo federal oficializou o contorno da reserva como o novo traçado da rodovia. O trajeto passa pelos municípios de Bom Jesus do Araguaia, Serra Nova Dourada e Alto Boa Vista. No novo traçado são 195 quilômetros divididos em dois lotes.

“Se fizer isso, para nós será um alívio. Vamos ter uma vida boa, porque vai melhorar muito para a gente”, destaca o caminhoneiro Jonas Luiz Pereira. “Se ganha tempo. Os animais não sofrem. A pavimentação para nós aqui será excelente”, completa o também motorista Pedro Sérgio Rosa Lima.

Ordem de serviço assinada em setembro

No fim de setembro, o governo federal assinou a ordem de serviço para a pavimentação dos 12 primeiros quilômetros do trajeto. O investimento previsto é de aproximadamente R$ 40 milhões.

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, afirma que a BR-158 é um projeto importante para o Brasil.

“Conseguimos a aprovação do primeiro trecho da BR-158. O segundo e o terceiro trechos já estão em fase finais de aprovação, também. Estamos numa sequência de trabalho que vem dando resultado. Isso vai trazer competitividade, vai trazer agilidade no transporte da safra e, mais que isso, cidadania àquela população do estado de Mato Grosso”.

Avanço na produção

O avanço logístico anima o setor produtivo, que acredita na expansão da agropecuária na região. A expectativa, conforme o gerente da Grespan Agro, Vasconcelos Ascoli, é que novas empresas também se instalem na região.

“Vai abranger cinco, seis municípios que não eram atingidos pela ligação asfáltica. Vindo essa rodovia, além de ampliar a área plantada, vai diminuir os custos de produção e vai fazer com que novas empresas venham a se instalar em nossa região”.

Conforme o produtor Igor Garruti, com o asfalto se possível levar a produção até os portos do Arco Norte.

“Os municípios que fazem parte do Vale dos Esquecidos hoje, que tem muita área degradada, pasto degradado, com a chegada do progresso eu acho que vai melhorar muito e aumentar a produção de soja na região, elevando a qualidade de vida de todas as cidades que serão beneficiadas”, frisa o agricultor Claudemir Müller.

Melhoria de receita nos municípios

A promessa de pavimentação no contorno da BR-158 alimenta, também, a esperança de melhora na receita dos municípios contemplados pelo trajeto. A expectativa de empresários e prefeitura é a de que a movimentação na estrada aqueça o comércio, elevando o nível de arrecadação na região.

Prefeito em Alto Boa Vista, José Pereira Maranhão lembra que a divisa entre os lotes A e B fica no município. “Com a contemplação do licenciamento ambiental do Lote A, a expectativa para o nosso município é muito grande. Quando você tem estrada boas você tem investimentos, as pessoas vêm investir na cidade”.

Em Bom Jesus do Araguaia, conforme o prefeito Marcilei Alves de Oliveira, são semeados cerca de 240 mil hectares de soja hoje, contudo as propriedades estão afastadas da cidade.

“Próximo aqui a minha cidade o pessoal não produzia justamente por conta de logística, da dificuldade de estar plantando para depois escoar, e o asfalto chegando vai melhorar muito. Então, eu tenho certeza absoluta que esse contorno passando por aqui, chegando, vai melhorar muito a vida do nosso cidadão aqui, que passa aqui no contorno que vai ser muito beneficiada nessas seis cidades”.

A expectativa é de que aproximadamente dois mil veículos passem diariamente pela nova rota, principalmente caminhões.

“Um divisor de águas com certeza. Estamos muito contentes com essa dádiva, porque esse é um presente de Deus para nós aqui, e estamos aqui na esperança que nós vamos triplicar o nosso movimento, nossas vendas”, diz o empresário Valdivino Antônio Alves.

BR-158 integra obras do Novo PAC

A pavimentação da BR-158 é uma das ações previstas para Mato Grosso no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O Novo PAC, como está sendo chamado, deve destinar ao todo R$ 60,6 bilhões ao estado. Quarenta por cento serão investidos em melhorias de logística (R$ 24,3 bilhões).

Além da BR-158, a BR-242 entre Gaúcha do Norte e Santiago do norte também deve ser asfaltada. Também serão beneficiados com o Novo PAC outros projetos e estudos que estão em andamento nas BRs 070,080, 163/364 e 174.

O trabalho que tem sido sendo feito, tem sido bastante oportuno, porque o Ministério colocou mais recursos. O governo federal alocou R$ 22 milhões no orçamento do Ministério dos Transportes para esse ano, para manutenção de rodovias e para investimento. Eu acredito que a performance do novo pacto que eles estão chamando vai ser melhor do que os anteriores, porque o governo anterior deixou muito projeto pronto. Então você tem só que fazer atualizações de valores e soltar a obra. Então, eu acho que aí nós vamos ter uma velocidade maior”, diz o diretor-executivo do Movimento Pró-logística, Edeon Vaz.

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, frisa que a pasta possui um plano de expansão da agropecuária brasileira para mais de 40 milhões de hectares. “Praticamente vai dobrar tudo o que produzimos em agricultura hoje e ser dobrado nos próximos dez anos. Mas, para que isso se torne uma realidade, não um gargalo, é fundamental, é imprescindível que se invista infraestrutura”.

Canal Rural MT

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