A Ecoarts Amazônia, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) com sede em Sinop (a 479 km de Cuiabá), e, em São Paulo, utiliza materiais da floresta para a produção de artigos de decoração. As peças são vendidas em mercados internacionais e em grandes centros, com alto valor. Parte do lucro retorna à floresta por meio de projetos de revegetação, treinamento de comunidades tradicionais e coletores e financiamento de pesquisa.
O Cuiabá Notícias entrevistou, Mônica Martins Miguel, uma das fundadoras da Ecoartas, que esteve em Cuiabá na última sexta-feira (1°), participando do evento Agroligadas. Mônica contou um pouco da história e do amor da família pela natureza que começou com Dona Mira de 75 anos, mãe de sete filhos, e que transmitiu para seus filhos, esse amor.
Hoje os sete filhos, sendo seis mulheres trabalham na Ecoarts na preservação e sustentabilidade da Amazônia Legal em Mato Grosso.
“Nós somos uma entidade dentro de uma fazenda produtiva, que é uma entidade de preservação. Nós tiramos resíduos da floresta e fazemos arte. E com o lucro a gente planta novas árvores, e preservamos a floresta. Nós preservamos não só o que é legal, mas a gente tem um excedente de preservação”, pontua Mônica.
Há mais de 20 anos atuando fortemente na preservação da Amazônia Legal, a recuperação da mata se entende para além da porteira das fazendas.
“Nós também já plantamos em cidades, aldeias, onde tem degradação, nós estamos lá. Há 20 anos estamos com esse projeto. Quando nós começamos foi por amor à terra, à floresta e à natureza. Nós acreditamos que ser sustentável é se sustentar, e sempre fazemos o que chamamos de uma economia circular, nos colhemos do chão da floresta, a gente transforma o lixo no luxo. E através disso a gente planta novas árvores. Nosso objetivo é a manutenção da floresta, é viabilizar essa floresta para que ela continue permanecendo e dar mais valor a árvore viva do que morta”, explica.
As peças são produzidas por artesãs da região de Sinop, lá é realizado o tratamento das sementes e a produção das peças, que mais tarde são levadas para o Studio Ecoarts, em São Paulo, onde é realizada a finalização das peças e vendas.
“Nós usamos o termo ‘artesania’, que é uma arte mais requintada, temos peças em galerias na Europa, já ganhamos 17 prêmios Europeus de Design com as nossas peças. Temos peças de decoração, acessórios. Temos uma linha grande de alta decoração. Temos artes um grupo grande de artesão, e cada um deles atua com uma matéria prima, uns são parceiros nossos há muitos anos”, frisa.
Parcerias
Através da preservação e sustentabilidade da Amazônia Legal, a Ecoarts já fechou parcerias com grandes empresas líderes globais que também estão comprometidas com o presente e o futuro da Amazônia em Mato Grosso entre elas, Vista Alegre, Bordallo Pinheiro, Emporio Armani, Le Lis Blanc e BMW.
A parceria com a marca de luxo portuguesa Vista Alegre, centenária em peças de porcelana, a Ecoarts partir das ilustrações setecentistas e das pinturas corporais e cocares inspirados nas etnias kayapó, tupi e ashaninka, desenvolveu a coleção Amazônia, composta por 70 peças abrangendo jogos de jantar, café, chá, copos, objetos decorativos, de iluminação e presentes.
“E nós fazemos também muitas parcerias através da arte com grandes marcas. A Vista Alegre que é porcelanas portuguesas desde 2019, onde temos uma coleção efetiva dentro da empresa. Este ano já fizemos a coleção Amazônia da Le Lis Blanc, já fizemos parceria com Empório Armani, BMW e outras marcas líderes de mercado”, conta.
Para a grife Le Lis Blanc, a Ecoarts desenvolveu uma coleção que teve a maior floresta tropical do mundo como tema, trazendo consigo um impacto social e ambiental significativo. Uma verdadeira viagem por meio das estampas, através de plantas, pássaros, mapas, desenhos.
A Ecoarts também é parceira da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), na pesquisa e avaliação e formas de propagação de espécies como bacurizeiro, camucamuzeiro, muricizeiro, tucumazeiro, taperabazeiro e abricoteiro.
Mônica explica que em médio prazo, com o acúmulo de informações, o objetivo é montar um banco de genoma através mudas e manejo dessas espécies. Além disso, o trabalho visa tornar essas fruteiras conhecidas da população, uma vez que todas elas possuem potencial de uso comercial.
“Dentro da Embrapa temos mudas em estudo, em análises, quem sabe no futuro teremos um banco de genoma, um catálogo de espécies, com árvores matriz. E nosso diferencial nisso tudo é que a gente tagueia nossa floresta. Toda muda de árvore plantada pelo Ecoarts tem um QR code. Por exemplo, a parceria com a BMW, ela quis um tanto de floresta, nós entramos e fizemos o primeiro manejo não madeireiro dentro de uma floresta, nós taguiamos a aquela floresta, e você em tempo real por meio de aplicativo consegue saber onde está essa árvore. E nós queremos que esse georreferenciamento, esse manejo não madeireiro, que é um manejo não madeireiro, e sim um manejo para conservação. E nós fazemos esse trabalho de ir à campo, taguiar, registrar e ter tudo georreferenciado, você abre o aplicativo está na sua mão, tudo que a gente consegue conservar e preservar.
Preservação
A Ecoarts trabalha de acordo com os princípios fundamentais da deep ecology e aplica isso à preservação da Amazônia Brasileira.
“Agora está tendo uma conscientização mais efetiva, e talvez as pessoas consigam ver como elas podem tornar a floresta uma parte da fazenda. Hoje a floresta é uma obrigação, não é parte, então nós mostramos que sim, que a floresta faz parte e que ela traz um retorno. Porque a preservação no Brasil hoje é totalmente privada, ela é uma obrigação do ente privado, o poder público não tem incentivo e para você preservar é caro, é caro plantar, é caro manter”, enaltece.
Nós também temos parcerias com índios, temos um projeto de fazer um cinturão em volta das aldeias. Fazemos doações de sementes, damos incentivos financeiros, assistência de conhecimentos, técnicas de plantio, entre outras”, cita.