Lembro da minha infância na década de 70, em plena ditadura militar. É, as mulheres tinhas poucas chances de ocuparem cargos de destaque. A minha sábia mãe costumava advertir ao chegar perto do fogão: “saia daí filha, vai se queimar.”
Por certo, a aversão da minha genitora de que nunca ficasse próxima do utensílio doméstico que tanto representa a vulnerabilidade delas, e carrega muitas anedotas machistas, trazia o temor em que acabasse me restringindo apenas às lides domésticas. Sim, as mulheres carregam consigo o medo de que as suas filhas se restrinjam ao ambiente doméstico.
Ouvi claramente e não raras vezes sobre conversas de adultos, quando ainda era criança. “Esse menino precisa estudar mais para sustentar a casa dele no futuro”. “Essa menina precisa aprender a cuidar de casa, senão ninguém irá querer se casar com ela”. Outras tantas sentenças marcaram indelevelmente a criação e educação patriarcal. Famílias se preocupavam com as futuras uniões de seus filhos e filhas, sempre pensando nos homens ocupando lugares no circuito do trabalho fora de casa, e elas reduzidas ao lar.
Na mencionada época, mulheres que estavam laborando fora de casa eram apontadas nas ruas como exemplos a serem seguidos. Todavia, denotavam um futuro pouco distante para as outras. Pois bem. As mulheres conseguiram quebrar barreiras que pareciam intransponíveis para ocuparem espaços importantes, e dantes apenas ocupados por eles.
Elas tiveram que guerrear com poucos espaços. Salários na esfera privada de aproximadamente 30% a menos. Responderam a questionamentos sobre a vida pessoal para desenvolverem trabalho fora de casa. E muitas deixaram de realizar o sonho da maternidade para se encaixarem no tal emprego. Enfrentaram assédios sexuais, e também morais logo em seguida, quando não aceitaram se submeter à violência sexual. Ah, e quando foram promovidas ouviram comentários desastrosos de terem se envolvido sexualmente com o superior hierárquico. No ambiente de trabalho, ainda, elas presenciaram piadinhas desagradáveis sobre o ‘ser mulher’. Quantas delas não foram hiper sexualizadas e, em contra partida, menosprezadas intelectualmente?
Na atualidade, mais de 60% das pessoas que chegam às faculdades e concluem o ensino superior são mulheres. Foi, e tem sido, desafios que elas superam com cada conquista.
Em momento histórico, o quadro de mulheres no poder em Mato Grosso é de se destacar. Exemplo a ser seguido. A Defensoria Pública neste biênio está sendo gerida pela Defensora Pública Maria Luziane Ribeiro de Castro, tendo como a Segunda Subdefensora-geral a Defensora Pública Maria Cecília Alves da Cunha. O Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso tem como atual presidente a desembargadora Clarice Claudino da Silva, e como vice-presidente a desembargadora Maria Erotides Kneip. A atual presidente em exercício da Assembleia Legislativa é a Deputada Janaína Riva. A presidente da OAB/MT é a advogada Gisela Cardoso. A delegada de polícia Daniela Maidel é a atual Delegada-Geral da Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso. A Dra. Lígia Neves Azis Lucindo é a atual superintendente regional da Polícia Federal de Mato Grosso.
No último dia 28 de abril tomou posse como presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso a desembargadora Maria Aparecida Ribeiro, e como vice-presidente e corregedora regional eleitoral a desembargadora Serly Marcondes Alves.
É inegável que as mulheres possuem características importantes para o comando, tal como: resiliência, resistência, coragem, empatia, flexibilidade e horizontalidade. Que tão importante onda de equidade possa render frutos em Mato Grosso! Oxalá!
(*) ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é Defensora Pública Estadual.