Renato de Paiva Pereira
Mais uma vez a ONU divulga pesquisa sobre o grau de felicidade dos povos de 143 nações. Sem nenhuma surpresa em relação a outras sondagens, os países nórdicos lideraram a lista. Os moradores da Finlândia, Dinamarca, Islândia e Suécia são considerados os mais felizes do planeta. Outro país nórdico – a Noruega – está em sétimo lugar.
Os critérios utilizados foram: PIB per capita que mede o rendimento anual de cada cidadão; o apoio social, a expectativa de vida, o grau de liberdade, a generosidade e a corrupção.
Países mais badalados como Estados Unidos e Alemanha não apareceram nem entre os 20 primeiros da lista.
Nós que vivemos em um país ensolarado estranhamos que moradores de regiões tão inóspitas consigam ser tão felizes. Em algumas regiões dos países mais felizes o sol não aparece durante dois meses do ano e o frio é intenso. Mas condições criadas pelo ser humano conseguem superar estas desvantagens e espalhar a sensação de felicidade entre seu povo.
A maioria desses países adota como forma de governo a social-democracia que se preocupa em reduzir a diferença social e econômica entre as pessoas, oferecendo instrução de alta qualidade e atendimento médico para todos. Como o ensino chega a todos e o atendimento de saúde é público e eficiente, a desigualdade é muito menor.
Igualmente instruídos e individualmente saudáveis, os trabalhadores conseguem competir entre si sem grandes vantagens que poderiam vir de uma condição social privilegiada. Não que estes países sejam socialistas ou comunistas, lá predomina a economia de mercado.
A jornalista brasileira Claudia Wallin, que mora há anos na Suécia, conta no livro “Um País Sem Excelências e Mordomias” que lá vereadores e deputados regionais não recebem salários e não têm gabinetes. São trabalhadores comuns que exercem esse voluntariado em favor do município ou região e recebem somente uma compensação quando tem que faltar ao trabalho para alguma função política.
Também um deputado federal usa um apartamento funcional de 45 m², não tem carro ou motorista. Lava sua própria roupa nas lavanderias comunitárias.
Ganha (depois dos impostos) mais ou menos 50% a mais que um professor primário, o que mostra o tamanho da diferença dos políticos brasileiros.
Desde 1960 o país aboliu os pronomes de tratamento de forma que todos se tratam por você, mesmo no plenário da câmara. Também os políticos não têm poder de aumentar os próprios salários.
Aqui no Brasil as autoridades, tratadas por excelências, tem inúmeros privilégios, ganham altos salários e há um batalhão de puxa-sacos abrindo portas e carregando suas pastas.
Nós brasileiros, na média, ganhamos relativamente pouco e temos insuficiente apoio social. Também insuflados pelos políticos, desconfiamos de nossas instituições e estamos enterrados até o pescoço na corrupção endêmica.
Por isto, a despeito do nosso majestoso sol e generosa terra, não passamos do 44° lugar no ranking mundial da felicidade.
Renato de Paiva Pereira – é empresário e escritor.
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